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  • Cora Coralina, Quem É Você?
  • Cora Coralina (bio)

Sou mulher como outra qualquer.Venho do século passadoe trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serraentre serras e morros."Longe de todos os lugares".Numa cidade de onde levaramo ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorrerama minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiamas escarpas agrestes.E eu fechada dentroda imensa serraniaque se azulava na distâncialongínqua.

Numa ânsia de vida eu abriao vôo nas asas impossíveisdo sonho.

Venho do século passado.Pertenço a uma geraçãoponte, entre a libertaçãodos escravos e o trabalhador livre.Entre a monarquiacaída e a repúblicaque se instalava.

Todo o ranço do passado erapresente.A brutalidade, a incompreensão,        a ignorância, o carrancismo. [End Page 31]

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Os castigos corporais.Nas casas. Nas escolas.Nos quartéis e nas roças.A criança não tinha vez,os adultos eram sádicosaplicavam castigos humilhantes.

Tive uma velha mestra que jáhavia ensinado uma geraçãoantes da minha.

Os métodos de ensino eramantiquados e aprendi as letrasem livros superados de queninguém mais fala.

Nunca os algarismos meentraram no entendimento.De certo pela pobreza que marcariapara sempre minha vida.Precisei pouco dos números.

Sendo eu mais doméstica doque intelectual,não escrevo jamais de formaconsciente e raciocinada, e simimpelida por um impulso incontrolável.Sendo assim, tenho aconsciência de ser autêntica.

Nasci para escrever, mas o meio,o tempo, as criaturas e fatoresoutros contramarcaram minha vida.

Sou mais doceira e cozinheirado que escritora, sendo a culináriaa mais nobre de todas as Artes:objetiva, concreta, jamais abstrata [End Page 34]

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a que está ligada à vida eà saúde humana.

Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.Sempre houve na família, senão umahostilidade, pelo menos uma reserva determinadaa essa minha tendência inata.Talvez, por tudo isso e muito mais,sinta dentro de mim, no fundo dos meusreservatórios secretos, um vago desejo de                                                    analfabetismo.Sobrevivi, me recompondo aosbocados, à dura compreensão dosrígidos preconceitos do passado.

Preconceitos de classe.Preconceitos de cor e de família.Preconceitos econômicos.Férreos preconceitos sociais.

A escola da vida me suplementouas deficiências da escola primáriaque outras o Destino não me deu.

Foi assim que cheguei a este livrosem referências a mencionar.

Nenhum primeiro prêmio.Nenhum segundo lugar.

Nem Menção Honrosa.Nenhuma Láurea.

Apenas a autenticidade da minhapoesia arrancada aos pedaçosdo fundo da minha sensibilidade,e este anseio:procuro superar todos os dias [End Page 37]

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minha própria personalidaderenovada,despedaçando dentro de mimtudo que é velho e morto.

Luta, a palavra vibranteque levanta os fracose determina os fortes.

Quem sentirá a Vidadestas páginas...Gerações que hão de virde gerações que vão nascer. [End Page 40]

  • Cora Coralina, ¿Quién Eres?
  • Cora Coralina (bio)

Soy mujer como cualquier otra.Vengo del siglo pasadoy traigo conmigo todas las edades.

Nací en una hondura de sierraentre sierras y montes."Lejos de todos los lugares".En una ciudad de donde se llevaronel oro y dejaron las piedras.

Junto a éstas transcurrieronmi infancia y mi adolescencia.

A mis anhelos respondíanlos acantilados agrestes.Y yo encerrada dentrode la inmensa serraníaque se azulaba en la distancialongincua.

En un ansia de vida yo abríael vuelo en las alas imposiblesdel sueño.

Vengo del siglo pasado.Soy de una generaciónpuente, entre la liberaciónde los esclavos y el trabajador libre.Entre la monarquíacaída y la repúblicaque se instalaba.

Todo lo rancio del pasado erapresente.La brutalidad, la incomprensión,                la ignorancia, el antiquismo. [End Page 32]

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Los castigos corporales.En las casas...

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