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Reviewed by:
  • Revolution in the Terra do Sol: The Cold War in Brazil by Sarah Sarzynski
  • Theresa Bachmann
Sarzynski, Sarah. Revolution in the Terra do Sol: The Cold War in Brazil. Stanford: Stanford UP, 2018. 352 pp.

Revolution in the Terra do Sol: the Cold War in Brazil, de Sarah Sarzynski, retoma o debate sobre os efeitos da Guerra Fria no Brasil, enfocando-se nas tensões que se desenrolam no nordeste brasileiro, em especial aquele nordeste rural dos anos 1950 e 1960, que chamou a atenção do mundo, e em particular dos Estados Unidos, com o movimento dos trabalhadores rurais em prol da reforma agrária, popularmente conhecido como Ligas Camponesas. Na esteira dos estudos culturais, o livro analisa as relações de poder sobre as quais se ergueu a imagem de nordeste e do nordestino a partir dos anos 1950 e 1960, e suas posteriores ressignificações—da campanha que se inicia na imprensa americana dando visibilidade ao que se chamava de "próxima Cuba," "China tropical" ou "um outro Vietnã" ao museu criado por Zito da Galileia, décadas depois do fim da Guerra Fria.

Valendo-se de uma extensa pesquisa de arquivos e documentos, Revolution in the Terra do Sol tem como maior diferencial explorar a ideia do nordeste a partir da discussão sobre a representação da região e do nordestino na produção cultural brasileira dos anos 1950 e 1960, no período da abertura política (1979–85) e no pós-ditadura. Os relatos pessoais, a poesia popular e especialmente a narrativa cinematográfica é a matéria de que se vale Sarzynski para analisar, de forma inquisitiva, a construção do tropo do nordeste (e como esses estereótipos vão sendo reapropriados e ressignificados com o passar dos tempos), apontando os produtos culturais como importantes construtores do imaginário popular.

Através da análise de símbolos como o cangaceiro, o fanático religioso, o escravo, o flagelado, e o coronel, o livro demonstra como algumas ideias, tais como raça, gênero, religiosidade e classe social, têm sido parte do processo dialético de construção e ressignificação de identidade do nordestino. A autora analisa as mudanças na representação do trabalhador rural na cultura popular e de massa; ao estereótipo de ignorantes e vítimas passivas emergem outras identidades, motivada pelos novos papeis que o trabalhador rural passou a assumir com o advento das Ligas Camponesas, como líderes e partícipes das lutas sociais pela reforma agrária.

O livro está estruturado em duas partes. Na primeira delas, mais extensa, composta por cinco capítulos, a autora faz uma retomada da história, oferecendo detalhes sobre a construção do tropo do nordeste do Brasil na imprensa norte-americana, que tem como resultado a criação da missão norte-americana no Recife, a maior da época. A autora analisa também a importância do que ela chama de "atores culturais" na construção da imagem do nordeste. Nos anos 1950 e 1960, o nordeste não só fazia parte do debate político como tornou-se uma peça importante de produção de cultura para o resto do Brasil. Diretores de cinema, cordelistas, e escritores retomavam a temática nordestina tanto reafirmando estereótipos como contestando visões simplificadoras. [End Page E4]

A autora mergulha na cultura popular e de massa produzida naquela época, indo do Cinema Novo aos poetas populares, tendo como meta compreender como o público traduzia e consumia essa informação. Identifica símbolos bastante marcados, que serviam para ancorar a produção cultural no nordeste: o cangaceiro, símbolo da masculinidade, da barbárie, do horror e por vezes da justiça; as representações raciais, através da simbologia da escravidão, da abolição, e do quilombo—criando-se uma metáfora para descrever as condições de trabalho e ao mesmo tempo formar uma identidade coletiva de resistência; e por último a religião como ferramenta: por um lado, o fanatismo de Canudos e, por outro, o uso da Bíblia e da figura revolucionária de Jesus...

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