- Reinventing a Sacred Past in Contemporary Afro-Brazilian PoetryFive African-Brazilian Poets
from LIVRO DE FALAS [BOOK OF VOICES]
Sacred Vessels
The ground lit by a half-moon. Requests and misgivings that become our lips in the dew: altars where invisible beings absorb and also proffer the world’s enigmas. The ground lit by a half-moon. Yesterday the waning lips in the dew . . . Today temple struggle full moon.
As quartinhas
O chão em meialua. Pedidos e receios que ao sereno se convertem em nossos lábios altares onde os invisíveis absorvem e mais ofertam os enigmas do mundo. O chão em meialua. Ontem os lábios minguantes ao sereno. [End Page 83] Hoje templo luta plenilúnio.
Circle of Singers
To hear in your whirling and return the force that speaks to us: only one was lost; this is how we came. Who else? The rhythm recovers us; the one which is the most behind will be the one least absent. Your other life rolls in this brief one. Your body over our soul dances until it bursts.
Partido alto
Esse ouvir no teu giro e retorno a força que nos fala: apenas um se perdeu, viemos assim. Quem mais? O ritmo nos recupera, aquele no atraso é o que menos estará ausente. Sua outra vida roda nessa tão curta. Seu corpo sobre nossa alma dança até rasgar.
from A RODA DO MUNDO [THE WHEEL OF THE WORLD]
Inquices*
They are the ancient ones.
They die one way, live another. They live in us not being blood.
Not being blood, they soak our bones. They are the same ones they weren’t before.
They are the ones who murmur. [End Page 84]
From them we know their names. To call is to feel them walking in us.
Walking in us either happy or sad. Like old people when they were children.
They are the ones who kill.
Following orders or to get even. They also educate in their loving kindness.
In their loving kindness that we don’t touch. The hot side of death.
The inquices are and are.
Because they ate the heart of life. With teeth and hunger.
Hunger one feels at all hours. We listen to the lesson of the inquices. The ones who never die.
Inquices
São os antigos.
Morrem de um jeito vivem de outro. Vivem na gente não sendo sangue.
[End Page 85]
Não sendo sangue molham os ossos. São os mesmos que não eram antes. São os que murmuram.
Sabemos deles os apelidos. Chamar é senti-los andando em nós.
Andando em nós alegres ou tristes. Como uns velhos quando meninos.
São os que matam.
Por encomenda ou acerto de contas. Também educam no seu carinho.
No seu carinho que não tocamos. O lado quente da morte.
Os inquices são e são.
Porque comeram o miolo da vida. Com dentes e fome.
Fome que se tem todas as horas. Ouvimos a lição dos inquices.
Os que não morrem.
[End Page 86]
Calunga Lungara
I am going to put into words what is not possible. They are water-words that dissolve.
I am speaking of Calunga.
It can be large or small depending on who crossed it.
Its name changes according to the tongue. In some it kills in others it is ocean.
On it is traveling someone who has no body. We are sailors in a land of pilgrimage.
Calunga goes around at night studying dreams. It accompanies captive marks in the dust.
It brings present fears family fears. The oldest does not show that even he would die.
I put into words what should not have been spoken.
What one says is not Calunga.
Calunga lungara
Vou pôr em palavras o que não é possível. São águas-palavras que se dissolvem.
É de Calunga ue falo. [End Page 87]
Pode ser grande ou pequeno depende de quem o atravessou.
Seu nome muda com as línguas. Em umas mata em outras é oceano.
Nele está viajando quem não tem corpo. Nós somos marujos...