Abstract

O futebol provê estudiosos das ciências sociais e humanas com múltiplas narrativas que populam o inconsciente coletivo brasileiro e oferecem distintas interpretações de nacionalidade. O universo acadêmico brasileiro tem produzido uma quantidade considerável de trabalhos neste sentido, investigando a importância do futebol para a identidade nacional; no entanto, estudos que focalizam a raça e o futebol são ainda infrequentes. O clássico O negro no futebol brasileiro (1947) de Mário Filho permanence uma das poucas tentativas de considerar e interpretar o papel da raça no futebol brasileiro. Um discípulo entusiasta de Gilberto Freyre, Mário Filho celebra a mestiçagem em seu livro, associando-a ao jeito brasileiro de jogar futebol. Entretanto, a noção de mestiçagem frequentemente promove também um ideal de branqueamento. Proponho neste trabalho que, embora a ideologia do branqueamento ainda permeie o inconsciente coletivo brasileiro, a promoção de um sistema racial de autorepresentação (a autodenominação) está gradualmente provocando uma mudança no paradigma racial brasileiro: o sujeito negro começa a reafirmar-se como tal; consequentemente, este mesmo sujeito negro emerge no centro de uma política identitária. Neste trabalho, investigo, através da análise do documentário “Preto Contra Branco” (2003), como o complexo teatro das relações raciais brasileiras tem se transformado. O documentário de Wagner Moraes examina a autorepresentação e raça, curiosamente conectando-as ao futebol.

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