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Reviewed by:
  • Vilém Flusser: Uma introdução
  • Ubiratan D’Ambrosio
Bernardo, Gustavo, Anke Finger e Rainer Guldin. Vilém Flusser: Uma introdução. São Paulo: Annablume, 2008. 151 pp.

Este livro é uma introdução ao pensamento de Vilém Flusser (1920–1991), um filósofo de grande originalidade e, de certo modo, profético. Analisando a superação de espaço e tempo, agora uma possibilidade aberta pela internet e pela relação intrínseca entre homem e máquina, Flusser reconhece novas categorias de experiências, de observação e análise, de conhecimento e de comunicação e, consequentemente, uma nova concepção de ser.

Os autores vêm de diferentes países. Gustavo Bernardo é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rainer Guldin é professor da Università della Svizzera Italiana, em Lugano, e Arne Finger é professora da University of Connecticut. Guldin e Finger editam o jornal virtual Flusser Studies www.flusserstudies.net, uma referência básica sobre o pensamento e a obra de Vilém Flusser.

O livro tem uma organização amigável para o leitor. A Introdução, escrita por Gustavo Bernardo, dá detalhes de como ele foi concebido e realizado. Nela é insinuado que antecipa uma desejada publicação das obras completas de Vilém Fusser. Seguem-se seis capítulos, uma bibliografia (de obras de Flusser, de obras sobre Flusser e de obras de apoio) e fotos de Flusser e família e dos autores.

Vilém Flusser viveu a maior e mais importante parte de sua vida no Brasil. Nasceu em Praga em 12 de maio de 1920, de uma família judia, com apreciável nível intelectual. Em 1939 emigrou para Londres e logo todos decidiram emigrar para o Brasil. Passaram a viver em São Paulo, onde Flusser associou-se ao emergente Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado por Miguel Reale, e passou a publicar na Revista Brasileira de Filosofia e no prestigioso Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo. Em 1972 os Flusser mudaram-se para a França. Vilém morreu em 27 de novembro de 1991, em um acidente de automóvel, retornando de uma conferência em sua cidade natal. Seu ensaio autobiográfico, Bodenlos. Uma autobiografia filosófica (publicada em 1992, em alemão), revela uma forma de nomadismo. A palavra bodenlos tem um significado amplo em alemão: sem chão, sem terra, sem fundamento. Flusser não só rejeita o topocentrismo, mas igualmente a subordinação a uma língua materna. Seus escritos são em alemão, português, inglês e francês. Interpreto sua concepção de [End Page 213] bodenlos como a apologia do ser humano como uma única espécie, superando estratificações de todo tipo.

O primeiro capítulo, de Anke Finger (“As redes de Flusser” – 20 páginas), seguido de uma Galeria de Imagens da família, é uma biografia sui generis. É organizado no conceito de rol de redes, proposto por Flusser para se reconhecer no encontro com outros. A autora procura escapar de uma biografia cronológica, mas não escapa de uma inevitável sucessão das fases da vida de Flusser: Praga, Londres, São Paulo, Robion. As redes estão situadas nessas fases que, elas mesmas, são concebidas como uma rede, de fato uma rede das redes, muito no espírito flusseriano. A autora chama cada uma dessas fases de “ensaios”, de certa forma uma homenagem a Flusser, que chamava seus escritos de meditações ensaísticas.

O segundo capítulo (“Vilém Flusser e os estudos culturais” – 22 páginas), também de autoria de Anke Finger, destaca o fato de Flusser, ao se considerar um permanente migrante, também se considerava um bodenlos no pensamento. Transitava através das fronteiras das disciplinas, rejeitando-as ou aceitando-as, criando outras, conforme a inquietação de seu pensamento. O cuidado de se aceitar uma verdade final, sua apologia da dúvida, como será visto no capítulo final deste livro, faz com que Flusser seja um migrante permanente no pensamento. Isso causa a grande controvérsia sobre sua obra. O livro A filosofia da caixa preta...

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