Abstract

Este artigo examina O Mandarim de Eça de Queirós a partir da conclusão problemática (e contradictória) do narrador e protagonista da novela, Teodoro. Questiona também a carta dirigida pelo autor ao editor da Revue Universelle em relação ao texto, apresentando-o como mero divertimento literário. Apesar do fundamento claramente fantástico da obra, o texto oferece uma análise mordaz dos fundamentos materialistas do Portugal do século XIX e da auto-imagem da nação numa época em que tem de procurar uma nova missão no mundo, após a perda do Brasil e antes da exploração plena das colónias africanas. Assim, Teodoro merece a nossa atenção não apenas como o indivíduo fraco e falhado que claramente é, mas também como símbolo do Portugal do século XIX, num contexto da diminuição do poder e do prestígio nacionais numa época de expansão forte por parte doutros países mais poderosos (como, por exemplo, os Estados Unidos e o Reino Unido). As tentativas retóricas por parte de Teodoro para persuadir os leitores a aceitar a sua versão da história reflectem não somente os seus próprios defeitos pessoais mas uma falta de clareza no reconhecimento português do verdadeiro estado da nação em finais do século XIX.

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