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Reviewed by:
  • História sexual da MPB: A evolução do amor e do sexo na canção brasileira
  • Dário Borim
Faour, Rodrigo . História sexual da MPB: A evolução do amor e do sexo na canção brasileira. Rio de Janeiro: Record, 2006. 586 pp.

Monumental, hilária, e reveladora – assim podemos definir esta obra pelas suas dimensões físicas, tom e valor simbólico enquanto referência. São 586 fascinantes páginas em papel off-set acrescidas de trinta e duas páginas coloridas com as sugestivas capas de inúmeros LPs e CDs. Para o bem da nação e seus estudiosos e simpatizantes, o jovem jornalista e pesquisador Rodrigo Faour vai muito além do que se poderia esperar de um bom livro inteiramente dedicado às questões amorosas e sexuais na música popular brasileira. Conforme nos adianta o astuto [End Page 149] especialista Jairo Severiano ao recomendar entusiasticamente a obra à primeira aba da segunda edição,"Faour obrigou-se a realizar a exaustiva tarefa de levantar mais de quinze mil composições representativas de toda a existência de nossa música." Dessas, Faour analisou mil e trezentos títulos para desenvolver e sustentar suas teorias. Nessa empreitada, são citados os versos mais pungentes de todas ou quase todas essas mil e trezentas canções, às quais o autor teve acesso nos acervos das principais gravadoras brasileiras. Entretanto, nem esse turbilhão poético-musical lhe bastaria para fundamentar suas observações. Faour também obteve depoimentos, exclusivos para o livro, de quatro psicanalistas e sexólogos, doze críticos e intelectuais, além de cinquenta e seis letristas, compositores e intérpretes (sem qualquer dúvida, a vasta maioria dos protagonistas vivos da história musical do Brasil).

Para facilitar a vida do leitor-pesquisador, a obra também inclui uma discografia em forma de apêndice de nada menos que cento e vinte e duas páginas, onde se separam as canções segundo temas e sub-temas. Todos os títulos, aliás, são seguidos dos nomes de seus compositores e intérpretes. No primeiro grupo, cujo tema é "O amor mal resolvido," arrolam-se os sub-temas definidos como "O amor pela musa inatingível, no início do século XX," "A tragédia amorosa na MPB da antiga, até os anos 1950," "O amor não realizado na canção contemporânea, do brega ao chique," "A dor-de-cotovelo nos carnavais do passado," "Desilusões amorosas e vingança em ritmo de samba," "A fossa em ritmo de samba-canção e bolero," e "A fossa em bossa nova & canções de autores do gênero." Algumas das sub-categorias agrupadas sob o tema "A mulher na MPB" são "Canções machistas (esculachando a mulher, sobre a mulher conformada, do homem ressentido, etc.)," "Porrada em mulher," "Os rocks machistas e/ou da fúria hormonal masculina da fase da jovem guarda," "A mulher dos anos 60 – Sexy ingênua ou bibelô do homem," e "Canções femininas / feministas." Essas composições sustentam as análises do primeiro capítulo, "O amor na MPB: a bossa, a fossa, a nossa grande dor," onde Faour argumenta que desde os seus primórdios, até os anos 60, a voz poética da canção brasileira nunca vê a mulher como um ser "normal." Ou ela é "musa distante," nos lundus, modinhas e valsas, ou é "diabo de saias,"nos sambas até meados do século XX. Nestes, os "letristas se mostravam desconfiados e com certo medo dos 'feitiços' da mulher, isso quando não a achincalhavam logo de uma vez, colocando-a como figura volúvel e traidora" (22–23).

Além de discernir e comentar incontáveis canções que confirmam os paradigmas principais da história da música popular, o autor não deixa de incluir as inegáveis exceções às regras, passagens estas que muitas vezes enriquecem seu ensaio com humor inusitado. Ao discutir algumas belas mas soturnas e deprimentes modinhas, Faour cita um segmento da entrevista com José Ramos Tinhorão em que o renomado e polêmico historiador...

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