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  • Os leitores de Machado de Assis: O romance machadiano e o público de literatura no século 19
  • Lúcia Granja
Guimarães, Hélio de Seixas . Os leitores de Machado de Assis: O romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. Bibliografia. Índice. 510 pp.

Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19, de Hélio de Seixas Guimarães, publicado no final de 2004 pela Nankin Editorial e Editora da Universidade de São Paulo, destaca-se em meio aos estudos a respeito de Machado de Assis por sua competência e originalidade. Muito citados, mas relativamente pouco estudados, os leitores de e em Machado de Assis ocupam, dessa vez, posição central no estudo desse jovem professor de Literatura Brasileira da USP.

O livro está dividido em três partes. Na primeira, entre outros assuntos, desenha-se à vista do leitor o contexto sócio-histórico e cultural da produção, circulação e recepção literárias no Brasil do XIX, entremeado por hipóteses para a pouca circulação e repercussão da produção literária nacional. Se tivesse parado por aí, o livro já nos teria fornecido importante contribuição, uma vez que levanta e interpreta criticamente dados e informações sobre a história da leitura no Brasil. O ponto mais alto dessa primeira parte do livro, e que dá grande contribuição aos estudos machadianos, é o segundo capítulo, no qual se discute como, já na década de 1870, passou a existir em nosso meio intelectual uma consciência crítica a respeito dos grandes obstáculos para a produção literária em um país onde o ato da leitura em geral e a circulação do livro permaneciam anestesiados por uma série de fatos históricos, entre eles o analfabetismo, que esmagava 86% da população brasileira. Assim, extremamente decepcionados, nossos críticos e escritores tiveram que se desfazer da "imagem extremamente idealizada e fluida que até então se fazia do país," o que, no caso de Machado de Assis, repercutiu esteticamente no que se refere a uma nova figuração para os leitores em sua narrativa, criada, guardadas as devidas mediações, a partir da assustadora constatação a respeito da situação dos leitores/leitura no Brasil.

Chegamos, assim, à segunda parte do livro, na qual, em sete capítulos que se dedicam aos nove romances de Machado, a discussão que retomamos resumidamente acima dá embasamento e consistência à análise da figura ficcional do leitor dentro dos romances machadianos. Frente ao quadro exposto, o livro vai agora desenhando, romance a romance, um trajeto sempre surpreendente para as novidades narrativas criadas por Machado. Esses romances foram abandonando gradualmente a relação cordial e pedagógica entre o narrador e seu leitor e passaram a experimentar outros tipos de soluções narrativas, processo que atingiu um ponto extremamente significativo em Memórias póstumas de Brás Cubas quando, pela primeira vez, a experiência empírica da leitura foi totalmente incorporada ao livro como matéria de sua composição ficcional. A partir, principalmente, da publicação das Memórias em livro, quando lhe é acrescentado o famoso prólogo "Ao leitor," Hélio Guimarães, apoiado pelo conceito do [End Page 132] leitor implícito desenvolvido pela Recepção de Wolfgang Iser, mostra como os romances da segunda fase estão impregnados pela "visão de literatura como algo que se dá por meio do livro." Assim, sempre buscando novas formas de testar e ampliar o relacionamento entre narrador e leitor, em cada um dos romances da maturidade de Machado, aparece a preocupação com as possibilidades de compartilhamento desses textos, as quais foram, por sua vez, estética e materialmente incorporadas ao livro.

A generosidade com os presentes e futuros pesquisadores de literatura e da história da leitura é outra marca do livro de Guimarães. Se nas duas primeiras partes a análise ilumina a compreensão da delicada...

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