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  • Sedução e heroísmo: imaginação de mulher. Entre a república das letras e a belle epoque (1884-1911)
  • Eva Paulino Bueno
Sedução e heroísmo: imaginação de mulher. Entre a república das letras e a belle epoque (1884-1911). Editora Mulheres, 2007. By Regina R. Felix.

Neste livro, Regina Felix usa a ocasião—a discussão do trabalho de Maria Benedita Bormann (1853-1895), e de Emília Bandeira de Melo (1852-1910)—para fazer uma apresentação concisa e oportuna da situação histórica do Brasil que levou ao fenômeno da belle epoque brasileira. Utilizando as armas teóricas de cunho benjaminiano, Felix visa situar a "subjetivação discursiva de mulheres," enquanto ao mesmo tempo alertando para o "jogo de diferenças" de que o sujeito histórico feminino inevitavelmente participa, como parte de uma realidade dialógica nacional.

O livro se divide em três partes distintas. A primeira introduz o "cenário caleidospópico" formado pelo que se convencionou chamar "a República das Letras," e pelo momento estético-cultural denominado "belle epoque." A segunda parte, titulada "Sedução," se concentra na obra de Maria Benedita Bormann, e a terceira, "Heroísmo," trata do trabalho de Emília Bandeira de Melo. [End Page 375]

Na primeira parte, Felix nos coloca no momento histórico em que o Rio de Janeiro, corte do Império e mais tarde capital da república, é visto como a metrópole cultural do país, onde o homem de letras disfruta de convivência aberta em livrarias, salões, cafés, jornais. Aqui, Felix discute os conceitos de zoe (a vida privada), e a agora (o espaço comunitário ideal). Como habitante do espaço de zoe, a mulher vivia sob o signo do temporário, do doméstico, daquilo que devia ser protegido da visibilidade. Já o homem habitava a agora, e como tal, podia alterar-se, aprimorar-se no contacto com a vida pública e a possibilidade de atuação política. Aqui, citando Antonio Candido, Felix nos recorda que o intelectual brasileiro, como "homem da polis" modelado da antiguidade clássica, termina por assumir um papel de "líder espiritual e, nas primeiras décadas do século XIX, sua atuação tem relação estreita com o nacionalismo"(24).

Com o avanço do Positivismo, e posteriormente, com a abolição da escravidão e a instauração da república, o cenário intelectual brasileiro se divide, de acordo com Felix, em três grupos. O primeiro, visto como vencedor, pratica a literatura frívola como a coluna social jornalística. O segundo grupo é composto dos herdeiros da Geração de 70, os "mosqueteiros intelectuais" que se juntam na Academia Brasileira de Letras, o Olimpo da vida intelectual. O terceiro grupo, perdedor como o segundo, tem membros como Euclides da Cunha e Lima Barreto, que fazem uma literatura comprometida com uma causa (35). Felix nos diz que os intelectuais, em busca de um papel dentro do panorama nacional que os colocasse ao lado da ordem, de todas formas se isolaram ao buscar abstrações do país. Enquanto isto, a mulher continuava sendo habitante do espaço doméstico ou, quando saía ao espaço público, era um apêndice do homem, e lhe servia como enfeite e símbolo de status.

É neste momento cultural que Maria Benedita Bormann e Emília Bandeira de Melo entram em cena, buscando iniciar a discussão do papel da mulher e do homem para além do modelo familiar. Com esta discussão, elas revelam tanto sua preocupação com a atividade intelectual no Brasil, como as leituras que as formaram. As protagonistas das obras de Bormann e Melo que Felix analisa vivem sua carga dramática através de efeito constituído pelo "melodrama," o qual é desdobrado em quatro aspectos: o do infortúnio, o da atuação dentro da "cena" urbana, o da meta-performance dos textos, e, finalmente, o do tom melodramático, inclusive pejorativo, sob um sentido "folhetinesco."

Na segunda seção do livro, Felix introduz aspectos da biografia de...

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