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Mestres na periferia do realismo: Eça, Machado, e o diálogo transatlântico sobre a amizade masculina
- Luso-Brazilian Review
- University of Wisconsin Press
- Volume 58, Number 1, 2021
- pp. 22-45
- Article
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Abstract:
Despite their renown for different aesthetic styles, this article argues that Machado de Assis and Eça de Queirós explored similar, classical representations of male friendship to problematize dominant understandings of relationships in patriarchal- capitalist society, and that such representations underpin their mutual development of confused and dubious male narrators in their later novels. In addition, it argues that the intertwined degradation of love and truth in their work reflects the precarious position of Portugal and Brazil at the end of the nineteenth century, at the periphery of British imperialism, European Realism and the burgeoning world of commerce and consumption. Beginning with O primo Basílio and considering in turn Quincas Borba, A relíquia and Dom Casmurro, the article demonstrates how early concerns about the inauthenticity of bourgeois marriage and friendship—whereby economic interests thwart the pursuit of true love—culminate in the singular novels of the 1880s and 90s, in which narrators struggle to recognize and articulate their feelings for their male peers. The argument thus draws links between characterization, literary form and social context, whilst proposing a greater degree of influence between the two authors than is generally acknowledged, amounting to a transatlantic criticism of the dominant ideology in the west at the time.
Abstract:
Apesar de reconhecidos pelos seus estilos estéticos distintos, este artigo argumenta que Machado de Assis e Eça de Queirós exploraram formas parecidas de representar a amizade masculina para problematizar o entendimento das relações interpessoais na sociedade capitalista-patriarcal, e que tais representações podem explicar o seu desenvolvimento mútuo de narradores confusos e dúbios nos romances mais tardios. Além disso, propõe que a degradação do amor e da verdade na sua obra reflete a posição precária de Portugal e do Brasil no final do século XIX: na periferia do imperialismo britânico, do realismo europeu, e do mundo crescente do comércio e consumo. Começando com O primo Basílio e olhando depois para Quincas Borba, A relíquia e Dom Casmurro, o artigo demonstra como as preocupações dos autores, enquanto jovens, sobre a inautenticidade do casamento burguês e da amizade masculina—com que os interesses económicos destruem a possibilidade do amor verdadeiro—culminam nos romances singulares que aparecem após 1880, em que os narradores não conseguem reconhecer e articular os seus sentimentos para com os seus “amigos” masculinos. Desta forma, o artigo estabelece ligações entre caracterização, práticas literárias, e contexto social, sugerindo um maior grau de influência entre os dois autores do que em geral se reconhece, e que constitui ainda uma crítica transatlântica da ideologia dominante no ocidente na altura.