In lieu of an abstract, here is a brief excerpt of the content:

Reviewed by:
  • Mandarin Brazil: Race, Representation and, Memory by Ana Paulina Lee
  • Marcelo Mac Cord
Lee, Ana Paulina. Mandarin Brazil: Race, Representation and, Memory. Stanford: Stanford UP, 2018. 229 pp.

Nos últimos vinte anos, aumentou o interesse nos meios académicos pelos estudos\ sobre a China. Entre outros agentes, grupos de pesquisa acadêmica, governos e associações comerciais, industriais e financeiras buscam compreender o crescimento exponencial daquele país e mapear seus projetos políticos, econômicos e militares para o mundo, já que as estimativas indicam que, em poucas décadas, o antigo Império do Centro será a maior potência global. Há um ditado popular chinês que demonstra, no tempo, essa mudança em direção ao protagonismo. Ele é mais ou menos assim: em 1949, somente o socialismo poderia salvar a China; em 1979, somente o capitalismo poderia salvá-la; em 1989, somente a China poderia salvar o socialismo; em 2009, somente ela poderia salvar o capitalismo. Certamente, a autora de Mandarin Brazil é uma intelectual que está atenta a esse movimento de reorganização global.

Ana Paulina Lee é professora adjunta do Department of Latin American and Iberian Cultures na Columbia University, onde se dedica aos estudos sobre urbanismo comparativo, migrações, raça, etnia, gênero, sexualidade, literatura e produção cultural nos séculos XIX e XX. No ano de 2014, a autora defendeu sua tese de doutorado em Literatura Comparada na University of Southern California, sob o título Luso-Hispanic Archipelagos: The Imaginary of Asia in Brazilian and Cuba Literacy and Visual Cutures, 1874–2014. Essa pesquisa de pós-graduação fundamentou a feitura do livro Mandarin Brazil: Race, Representation and, Memory, que foi publicado na série Asian American da Stanford University Press. O trabalho de Ana Paulina Lee vai ao encontro do escopo daquela coleção acadêmica: revelar as influências asiáticas na formação das culturas americanas.

Em seu eixo central, Mandarin Brazil demonstra que, hegemonicamente, os projetos de construção da identidade nacional brasileira, gestados entre a desagregação do escravismo e a chamada "Era Vargas," estiveram marcados pela whiteness—que traduzimos por "branquitude." Por isso, eles foram quase sempre refratários às influências culturais, étnicas e raciais chinesas—ou "orientais," de forma mais genérica. Segundo Ana Paulina Lee, no período em quadro, esses preconceitos vinculavam-se ao que se convencionou chamar globalmente de Chinese question ("Questão chinesa") e de Yellow peril ("Perigo amarelo"). Localmente, as elites políticas, econômicas, e culturais brasileiras entenderam que tais marcas atrapalhariam a "marcha evolutiva" de nossa civilização, pois os chineses, em suas práticas e representações, reforçariam o que elas entendiam como nossas atávicas, "indolência," "preguiça," "sensualidade," e "inépcia."

Para fundamentar os argumentos que constroem Mandarin Brazil, Ana Paulina Lee consultou fontes de naturezas diversas, depositadas em vários arquivos do mundo. Fotografias, mapas, pinturas, gravuras, peças de cerâmica, periódicos, correspondências diplomáticas, documentos governamentais, obras literárias e [End Page E20] gravações musicais compõem a base de seu material empírico. A diversidade de fontes, e seus cruzamentos, revelam ao leitor aspectos multidimensionais da construção, no espaço-tempo, do que a autora chamou de chineseness e suas implicações políticas, sociais, econômicas, culturais, e raciais tanto no Ocidente, de forma geral, quanto no Brasil, de forma específica. Nessa empreitada intellectual da autora, destaco seu exercício interpretativo com os métodos da Literatura Comparada, seu principal campo de estudo, que permitiu o diálogo entre suas análises e alguns princípios da História Cultural.

Do ponto de vista formal, Mandarin Brazil está dividido em seis capítulos: "Brazil's Oriental Past and Future," "Emancipation to Immigration," "Performing Yellowface and Chinese Labor," "The Chinese Question in Brazil," "Between Diplomacy and Fiction," e "The Yellow Peril in Brazilian Popular Music." Podemos lê-los isoladamente, encarando-os como uma espécie de ensaio, mas, ao mesmo tempo, as partes também compõem uma unidade narrativa que está alinhavada pelo respeito à cronologia. Assim, o livro também busca apresentar a historicidade da categoria chineseness na...

pdf