Abstract

Abstract:

Em "Os portugueses não gostam de asas" (2008), José Eduardo Agualusa recupera aspetos do Portugal contemporâneo para os submeter ao veredito brutal de um Eça de Queirós morto. Em "O regresso de José Maria" (2015), de João de Melo, Ega encontra Eça na Lisboa do século XXI e os dois lamentam o provincianismo dos portugueses. Estes dois textos aproveitam a herança queirosiana (e sua alegada atualidade) para fazer um trabalho de interrogação identitária. O artigo tenta perceber até que ponto é Eça tido como um interlocutor nesta discussão, ou como um observador privilegiado, detentor de uma verdade inquestionável sobre o que é ser português. Os textos de Agualusa e Melo mostram que Eça funciona como um género discursivo, usado como símbolo estenográfico de uma perspetiva sobre Portugal, e que os autores se debatem com as regras e rotinas do género em busca de um entendimento do que é Portugal.

Abstract:

In "Os portugueses não gostam de asas" (2008), José Eduardo Agualusa draws on aspects of contemporary Portugal and submits them to the brutal verdict of a deceased Eça de Queirós. In "O regresso de José Maria" (2015), by João de Melo, Ega runs into Eça in 21st-century Lisbon, and both deride the provincialism of the Portuguese. These works capitalize on Eça's legacy (and its heralded topicality) to carry out a work of identity interrogation. This article aims to understand to what extent Eça is being used as an interlocutor in such a discussion, or as a privileged observer, holder of an unquestionable truth about what it is to be Portuguese. The works of Agualusa and Melo reveal that Eça acts as a discursive genre that they use as shorthand to convey a worldview about Portugal, but they also struggle with the rules and routines of that genre while searching for an understanding of what Portugal is.

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