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MULHERES FORRAS, CHEFES DE DOMICÍLIO EM MINAS GERAIS, BRASIL (1770–1880) Vanda Lucia Praxedes Universidade do Estado de Minas Gerais/Faculdade de Educação Introdução Este trabalho, de caráter exploratório, se propõe a discutir algumas questões referentes à chefia feminina de domicílio, especialmente de mulheres forras, no período de 1770 a 1880, na Capitania e Província de Minas Gerais, Brasil. A partir da leitura de variadas fontes documentais primárias este artigo procura evidenciar que as mulheres chefes de domicílios, distinguiam-se por suas experiências, pela situação familiar, pela condição social, pela cor, por suas trajetórias e por suas ocupações.1 O universo das práticas sociais, que envolviam a atuação das mulheres, foi mais plástico do que aquele previsto nas normas e nos discursos, rompendo com a ideia de que o papel da mulher era aquele restrito à esfera privada, ao recesso do lar, ao cuidado com a casa e filhos. O trabalho pretende, ainda, desmistificar a ideia de que a matrifocalidade estava limitada apenas às camadas populares, mais especificamente às mulheres livres pobres, forras e escravas. Foi constatado que o fenômeno abrangia mulheres de todas as condições sociais, inclusive as mulheres brancas, abastadas que gozavam de grande prestígio social. Além disso, questiona um certo dualismo extremamente perverso tão presente no imaginário social brasileiro, que é a associação entre pobreza e chefia feminina, como se uma fosse condição da outra. Sem pretender negar as dificuldades enfrentadas por um grande contingente de mulheres chefes de domicílio na sociedade brasileira, especialmente em Minas Gerais, do final do século XVIII e decorrer do século XIX, o estudo propõe romper com visões que tendem a reforçar estereótipos de vulnerabilidade e pobreza sempre relacionadas ao feminino. As Fontes: escolhas, caminhos e percursos metodológicos Compondo o rol de fontes documentais primárias utilizadas para a pesquisa de doutoramento que deu origem, também, a este artigo destaca-se: 285 Testamentos; 96 Inventários Post-Mortem; 494 Cartas de Alforria; 26 Processos de Divórcio, entre os anos de 1770 e 1880, referentes a Paracatu, a Diamantina e Sabará; Relação dos Habitantes de Santo Antônio do Tejuco, 1832; Listas Nominativas da Província de Minas Gerais, dos anos 1831/1832 tendo sido utilizados apenas 20.911 registros referentes às mulheres chefes de domicílio, não sendo considerados os C  2012 Southeastern Council on Latin American Studies and Wiley Periodicals, Inc. 11 The Latin Americanist, December 2012 registros de homens e crianças; Livros de registros de batismos (1762 a 1806) sob a guarda do Centro de Documentação da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte; 12 Cartas de Legitimação localizadas no Arquivo Nacional, RJ e Microfilmes do Arquivo Histórico Ultramarino. Por acreditar que a leitura de um amplo conjunto de fontes documentais contribuiria para a compreensão e desvendamento do universo multifacetado das mulheres, optei por trabalhar com um variado corpus documental encontrado nos arquivos mineiros, cariocas, portugueses e africanos. Diante de variadas possibilidades metodológicas e da especificidade de cada fonte, recorri a diversas formas de análise dos dados recolhidos, alternando abordagens quantitativas e qualitativas. Nesse caso, utilizei várias técnicas e métodos na tentativa de captar a história de homens e mulheres e seus arranjos familiares no maior número possível de fontes. Um dos métodos utilizados foi o de “ligação nominativa”, cujo método permite reconstituir a trajetória dos sujeitos em diversas etapas da vida através da ligação de nomes, como, por exemplo, nascimento, casamento, divórcio, ocupação e morte, sendo possível a reconstituição de diversas gerações familiares.2 Optei, ainda, por uma análise histórica voltada para a micro-história, na medida em que me interessava captar as experiências singulares, de modo a observar o que o particular tem de coletivo. Por meio da micro-análise...

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