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Reviewed by:
  • Spectacular Wealth: The Festivals of Colonial South American Mining Towns by Lisa Voigt
  • Leopoldo M. Bernucci
Voigt, Lisa. Spectacular Wealth: The Festivals of Colonial South American Mining Towns. Austin: U of Texas P, 2016. x + 225 pp. Figures. Notes. Works Cited. Index.

É no conflitivo e sempre fascinante mundo dos dois maiores centros de riqueza da América do Sul colonial dos séculos XVII e XVIII, Potosí e Minas Gerais, que Spectacular Wealth de Lisa Voigt se concentra para um exame detalhado da dinâmica cultural desses lugares e de suas implicações para as Coroas de Espanha e Portugal. Este livro, impecavelmente escrito e pesquisado vem juntar-se agora aos indispensáveis estudos de Affonso Ávila, Resíduos Seiscentistas em Minas (1967) e de Stephanie Merrim, The Spectacular City, Mexico, and Colonial Hispanic Literary Culture (2010). Nestas três obras, os olhares críticos se complementam e as análises ali contidas engrandecem o campo de observação de um fenômeno que marcaria a cultura dos países latino-americanos até os nossos dias: as festas e/ou festivais religiosos, caracterizados por aquilo que Octavio Paz denominou de “derroche,” em um conhecido capítulo (“Todos Santos, Día de Muertos”) do seu El laberinto de la soledad; ou seja, o “excesso,” excesso sempre compensador de algo ou com vistas estratégicas a conseguir esse algo (e.g. favor, status, reconhecimento, etc.).

Se simbolicamente para os ainda contemporâneos mexicanos de Paz, os sacrifícios e oferendas no contexto das festas acalmam ou compram os deuses, de igual maneira as festas pomposas de Potosí e Minas Gerais “acalmariam” e “comprariam” as autoridades espanholas e portuguesas. E, com lógica perversa deste outro lado, estas mesmas dádivas e festejos também acalmariam e comprariam o povo. Nesta última estratégia, desenhada pelas duas Coroas e a Igreja, estaria o verdadeiro sentido das festas para controlar e converter os indígenas e escravos negros, evitando assim possíveis rebeliões ou alçamentos coletivos que colocassem em risco a ordem e o progresso daqueles territórios coloniais. Tal estratégia fica exemplarmente clara em distintos momentos do livro de Voigt, durante os quais ela se esmera em um exercício de close reading de notável profundidade, desentranhando os seus mais recônditos significados. As leituras que ela realiza dos textos que lhe servem de argumento chegam a ser tão minuciosas e completas que nada ficaria sobrando, nem mesmo a possibilidade de se interpretar os atos performáticos, na segunda parte de seu livro, na mesma clave que propõe [End Page E1] Paz. Isto é, na das representações, nas quais negros, criollos, índios, mulatos atuavam e onde, justamente, haveria a possibilidade de uma motivação oculta (“trampa mágica” em palavras do escritor mexicano). Portanto, seguindo esse raciocínio, com o excesso e o luxo, esperar-se-ia atrair por contágio a verdadeira abundância para as suas vidas. Nas entrelinhas das análises do livro de Voigt já se encontra esta possibilidade de entender de modo cabal o que ela chama de “oposição binária de dominação e resistência” (138, citação traduzida pelo autor).

Dividido em duas partes, claramente bem estruturadas, Spectacular Wealth abre-se com os comentários críticos da autora, que inicia a sua análise comparando, de um modo geral, esses dois importantes lugares de mineração. Depois, na primeira parte do livro, o seu foco de atenção é primordialmente nos aspectos retóricos, concentrando-se em três textos seminais, Historia de la villa imperial de Potosí (ca. 1705–1736) de Bartolomé Arzáns de Orsúa y Vela, Triunfo eucharistico (1734) de Simão Ferreira Machado e Aureo throno episcopal (1749) de autor anônimo e que celebra a entrada do Bispo Manuel da Cruz em Mariana, Minas Gerais. Mais tarde, na segunda parte, Voigt se dedica à tarefa de desconstruir a égloga “Dios pan” de Diego Mexía de Fernangil (1680), apontando as suas qualidades barrocas e alegóricas e, em seguida, oferecendo também uma engenhosa leitura dos aspectos performáticos dos festivais, ao fazer uso ainda da monumental pintura de Melchor P...

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