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Reviewed by:
  • Art Systems: Brazil and the 1970s by Elena Shtromberg
  • Fabio Camarneiro
Shtromberg, Elena. Art Systems: Brazil and the 1970s. Austin: Texas UP, 2016. Pp. 238. ISBN 978-1-47730-858-5.

O golpe de 1964, que instaurou o governo militar no Brasil, decretou também uma ruptura com o otimismo e as utopias sociais que marcaram a fase imediatamente anterior, quando a construção da nova capital, Brasília, celebrou a possibilidade de um país "rumo ao futuro". As mudanças trazidas após o golpe de Estado—altos índices de inflação, censura às artes e à imprensa e a violenta repressão às vozes contrárias ao regime—obrigaram a sociedade brasileira a se redefinir. Art Systems: Brazil and the 1970s analisa parte da produção artística surgida nesse [End Page 153] momento histórico particular, especialmente os trabalhos que negavam espaços tradicionais de exposição (como o museu) ao se colocar em diálogo com outros circuitos de significação. Nesse sentido, a obra de um artista como Cildo Meireles seria exemplar: cédulas monetárias colocadas em circulação ou garrafas de Coca-Cola marcadas com mensagens críticas ao regime militar, melhor visualizadas com a garrafa vazia. Uma arte feita para se realizar no cotidiano, em um dia qualquer, à mesa de refeição de um cidadão qualquer.

O livro está dividido em quatro capítulos que tentam identificar, no mundo das artes, aspectos próximos da teoria dos "sistemas" conforme a obra de Jack Burnham. Quatro sistemas de "comunicação, troca e representação" que buscam inserir a arte na vida cotidiana, de maneira às vezes subliminar, similar àquela pela qual o governo impunha à população seus valores e seu controle: cédulas, jornais, televisão e mapas. Elena Shtromberg identifica as estratégias pelas quais essas obras acabaram por se inserir na circulação da moeda corrente, na divulgação de notícias impressas, na radiodifusão de sons e imagens e na cartografia (aqui entendida como uma forma de representação do próprio país). Em "Moeda", os temas da inflação (a perenidade das notas) e do "milagre econômico" são usados para entender aspectos da obra de Cildo Meireles. Em "Jornais", a censura à qual os veículos de impressa estavam submetidos revelam a subversão presente nos trabalhos de Antonio Manuel, Meireles e Paulo Bruscky. "Televisão" analisa trabalhos que questionam a posição hegemônica da maior rede de comunicação do país, a TV Globo, e o controle da informação por um limitado grupo de famílias: aqui, são analisados vídeos de Leticia Parente, Sonia Andrade, Paulo Herkenhoff e Geraldo Anhaia Mello. Finalmente, "Mapas" questiona a imagem de país que o governo tentava construir, um país "grande", em expansão rumo à Amazônia. Um país pensado em termos de "integração nacional", dotado de uma espécie de identidade única que, de maneira violenta, excluía diferentes maneiras de representação do que poderia ser um "brasileiro", negando de maneira sistemática alguns grupos sociais (os pobres) e étnicos (negros e índios): os trabalhos de Cildo Meireles, Anna Bella Geiger e Sonia Andrade aparecem nessa seção.

Um dos méritos da pesquisa de Shtromberg é construir sua narrativa a partir de fontes primárias: artistas (das artes visuais mas também da poesia concreta), críticos e pesquisadores. Dessa maneira, além de identificar, nas obras analisadas, as reações ao conturbado contexto da época, a autora oferece preciosos insights sobre os processos criativos e as motivações dos artistas em questão, como nas imbricadas questões que levaram Cildo Meireles a realizar suas notas de Zero Cruzeiros—metáfora da volatilidade do valor da moeda, mas também uma crítica ao lugar da obra de arte na sociedade e à sua exponencial mercantilização. A excelência da pesquisa não mascara o fato de que os sistemas estudados são muito diversos entre si. Talvez os dois primeiros—"Moeda" e "Jornais"—sejam os que mais correspondam às ideias de Burnham, enquanto "Televisão" e "Mapas" apresentam obras ainda próximas de um...

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