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Reviewed by:
  • Mário de Sá-Carneiro, A Cosmopolitan Modernist ed. by Fernando Beleza and Simon Park
  • Jerónimo Pizarro
Beleza, Fernando and Simon Park, eds. Mário de Sá-Carneiro, A Cosmopolitan Modernist. Bern: Peter Lang, 2017. xiii + 183 pp. Foreword. Figures. Notes. Contributors. Index.

O sexto volume da série 'Reconfiguring Identities in the Portuguese-Speaking World,' dirigida por Cláudia Pazos Alonso e Paulo de Medeiros, é o livro Mário de Sá-Carneiro, A Cosmopolitan Modernist, editado por Fernando Beleza e Simon Park, com um inesperado prefácio de Richard Zenith. Inesperado, porque Zenith não aprecia particularmente a obra de Sá-Carneiro, considerando-o um criador "algo limitado" e "incomparavelmente menos vasto" que Pessoa (Colóquio/Letras 195 (2017): 135), o que nos transmite um retrato do autor de A confissão de Lúcio que, aparentemente, contradiz as palavras de Beleza e Park: "the contributors to this volume amply demonstrate that Sá-Carneiro should rank amongst the most interesting Portuguese, dare we say, European writers of the early twentieth century" (10).

Eu não só concordo com Beleza e Park, como acredito que o volume que editaram pode ser lido como uma espécie de reader de Sá-Carneiro, permitindo reavaliar, de forma positiva, a obra do 'modernista cosmopolita.' Julgo também que essa reavaliação, dentro e fora de Portugal, é urgente, porque o modernismo português não deve permanecer na sombra de uma só figura (nem de duas ou três, visto ter sido plurívoco), nem se manter impermeável a novas leituras e abordagens críticas.

Fernando Cabral Martins abre o volume, definindo Mário de Sá-Carneiro como interseccionista—como o maior expoente do Interseccionismo—e propondo que o autor foi um vanguardista romântico, isto é, o autor de uma obra, ao mesmo tempo, ultra-romântica e cubista, em que convivem influências de Alexandre Dumas e Max Jacob. O mais interessante deste contributo é a análise estilística de alguns poemas—"Sete canções de declínio" e "Aquele outro"—e de um conto, "Asas," análise que leva o crítico a referir-se ao carácter performativo da obra sá-carneiriana. Cabral Martins defende, como já o fizera em O modernismo em Mário de Sá-Carneiro (1997), "[that] the experience of the world is understood [by Sá-Carneiro] as a performance, as theatre without a stage" (21), e que na síntese performativa que constitui a obra da 'esfinge gorda,' "the difference between sincerity and artifice, fantasy and reality ceases to matter" (21).

Ricardo Vasconcelos é o autor do segundo capítulo, que contém interessantíssimas considerações referentes à figura e à prática da blague modernista, e ao poema "Manucure" de Sá-Carneiro, descrito por Pessoa como blague. Vasconcelos propõe uma tese decisiva: "For Pessoa, blague can mean more than feigned depth and seems to denote mostly something with a clear performative dimension and made to shock' (32). "Manucure" deveria, portanto, ser lido como uma performance dramatizada feita para perturbar, tal como outras produções futuristas ou vanguardista. Lendo este contributo, lembrei-me de Álvaro de Campos que, numa carta de 6 de Julho de 1915, anuncia um drama dinâmico sobre o jornalismo português em que o pano sobe apenas meio metro de altura e apenas se vêm os doze pés de três jornalistas . . . [End Page E41]

O terceiro contributo, de Miguel Almeida, é, curiosamente, um texto que se opõe ao de Cabral Martins. Almeida—autor de uma tese de Mestrado em Teoria da Literatura orientada por Mariana Gray de Castro, também presente neste volume—discorda do exposto pelo autor de O modernismo em Mário de Sá-Carneiro (1997). Diz: "Sá-Carneiro's work serves as the symbol of what happens inside his own subjectivity" (57). Nem Cabral Martins, nem Pedro Eiras—que também participa em Mário de Sá-Carneiro, A Cosmopolitan Modernist—concordariam com esta afirmação.

Almeida encerra a primeira parte do volume, "Intersecções," e Curopos abre a segunda, "Cosmopolitanismo," mais dinâmica, visto que o diálogo entre Curopos e os editores do volume, Beleza e Park, é intenso. Deve-se a...

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