Abstract

O presente artigo é uma abordagem sobre as condições que explicam o rápido empobrecimento de mulheres jovens e de poucos recursos econômicos, moradoras do interior da provincia nordestina do Ceará durante o Segundo Reinado. Com base em inventários post-mortem e partilhas do município de Jucás, analisamos como as leis de herança, as restrições legais no direito das viúvas de administrar o patrimônio dos seus filhos menores, e a organização social de gênero foram fatores que, de fato, despojaram viúvas pobres livres e jovens dos seus poucos bens (pequenas terras e animais) após o momento da morte de seus maridos. Esses mesmos fatores criaram uma situação de pobreza extrema e de dependência feminina em parentes, geralmente masculinos, e contribuiram a recriar relações patriarcais e de desigualdade entre homens e mulheres no sertão cearense durante a segunda metade do século XIX.