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  • Recitação da passagem: A obra poética de Edimilson de Almeida Pereira by Maria José Somerlate Barbosa
  • Kátia da Costa Bezerra
Barbosa, Maria José Somerlate . Recitação da passagem: A obra poética de Edimilson de Almeida Pereira. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2009. 272 pp.

Nascido em Juiz de Fora, Edimilson de Almeida Pereira tem sido apontado como um dos nomes chave da poesia contemporânea brasileira. Dono de uma produção extensa, densa e diversificada, sua obra poética é marcada por uma [End Page 277] pluralidade de dicções e ritmos que se conjugam num movimento contínuo de (re)significações. O livro Recitação da passagem, de Maria José Somerlate Barbosa, debruça-se sobre algumas dessas questões.

Identificando como ponto de partida a dicção do poeta e antropólogo Edimilson de Almeida Pereira, Recitação da passagem aponta importantes trilhas a serem percorridas por um leitor que busca extrair da obra alguns dos conceitos capazes de viabilizar novas propostas de leitura. O livro está dividido em um prólogo, cinco capítulos, biografia, bibliografia do autor e sobre o autor e um índice onomástico e temático. No prólogo, a autora identifica um roteiro de leitura que procura iniciar o leitor "nos percursos literário-culturais do poeta," esforçando-se por criar um elo entre "o texto e a voz que o lê" (19). No primeiro capítulo, "O timbre da vogal," a autora retoma os conceitos de "metalinguagem" e o local da cultura, baseando-se nas discussões teóricas desenvolvidas por Linda Hutcheon e Homi Bhabha, a fim de refletir sobre a "coreografia das palavras" presente na poesia de Pereira. Somerlate Barbosa chama de "ginga poética" os jogos vocabulares construídos a partir da percepção do signo como uma cadeia infinita de significados (53). Para a autora, esse jogo entre a multidimensionalidade das palavras aliada a uma polifonia textual viabiliza a criação de outro espaço de intervenção e de enunciação (33). O segundo capítulo, "A recitação da passagem," explora a poesia de Pereira a partir da teoria de "efeito-vestígio" e os conceitos de "espaçamento" e "dialogismo" desenvolvidos por Noam Chomsky, Jacques Derrida e Mikhail Bakhtin. Nesse caso, a plurissignificação vocabular aparece associada a uma economia de traços estilísticos e a referências sóciohistóricas que obrigam o leitor a procurar "o que se escondeu nos vãos e eiras do seu tempo" (76). Isso quer dizer que os "efeitos-vestígios" se fazem presente "tanto em relação à linguagem quanto aos traços e cicatrizes da História e da diáspora africana" (22). Como tão bem argumenta Somerlate Barbosa em vários momentos, o caráter dialógico de sua poesia exige um leitor ativo e crítico, que se vê obrigado a assumir o papel de produtor de significados. O terceiro capítulo, "Bagagem de mutáveis espelhos," examina especificamente o Livro de falas e o processo de ressemantização dos vestígios da diáspora africana num mundo globalizado. Através do conceito de signo "trickster-cimarrón-quilombola," a autora retoma a percepção do signo como uma cadeia de significações relacionais, identificando o signo quilombola como parte essencial do jogo lúdico e desestabilizador das relações de poder e de noções de valor (105). A incorporação e recontextualização de aspectos da tradição africana (como a figura de Exu ou a exploração de elementos da cultural verbo-visual) contribuem para processo de revisão das tradições religiosas e histórico-literárias. O capítulo quatro, "A pele em transe," examina o livro Caderno de retorno, propondo um roteiro de leitura a partir da discussão de técnicas de pintura, fotografia e filmagem. Segundo a autora, a proposta de redefinir o Brasil "das margens para o centro" se estrutura a partir do questionamento da relação entre memória, história e literatura (130). Na tentativa de redirecionar o olhar do leitor, a autora examina a forma [End Page 278] como a obra "manipula o...

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