In lieu of an abstract, here is a brief excerpt of the content:

  • Literatura brasileira contemporânea: o desafio da exportação
  • Carmen Villarino Pardo

Nos últimos anos têm surgido novos desafios para os estudos de história e sociologia da literatura em relação à idéia de um ‘universo literário mundial’ ou de uma ‘república mundial das letras’. Um deles atinge a internacionalização da produção literária. Vamos estudar o caso brasileiro atual em relação a que discursos estão sendo produzidos hoje em relação à divulgação da literatura brasileira no exterior.

Na edição digital do Estadão do dia 8 de maio de 2010 podíamos ler uma matéria intitulada: “Brasil ainda é tímido na exportação de sua literatura”. E, por baixo, a indicação: “Para quem acompanha o mercado, é preciso incentivar viagens de escritores e capacitar os tradutores” (http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,brasil-ainda-e-timido-na-exportacao-de-sua-literatura,548553,0.htm).

O artigo parte do sucesso – em certo modo, inesperado – da edição italiana do romance Sogni all ‘Alba del Ciclista Urbano, da autoria de Daniel Galera (editado em 2008 na editora italiana Mondadori e que vendeu 4.000 exemplares) para comentar que se trata “de um raro caso bem-sucedido num cenário tímido: o da tradução de obras literárias no exterior”.

Na matéria explica-se que na primeira década do séc. xxi se observa uma “ligeira proliferação de ficcionistas nacionais em outros países” (com exemplos como os de Milton Hatoum, Cristovão Tezza, Luiz Ruffato, Alberto Mussa, que se somam, acrescento, aos de Rubem Fonseca, Nélida Piñon e João Ubaldo Ribeiro entre outros).1 O jornalista pergunta [End Page 151] por que ainda continua com um crescimento tão discreto a exportação literária.

A questão formulada usa uma expressão, “exportação literária”,2 que começa a não ser muito estranha ao falar de produtos literários e culturais e que, nos últimos meses, também começa a acompanhar um discurso institucional brasileiro em termos de políticas culturais e que queremos focar neste trabalho.

Na Festa Literária Internacional de Parati (Flip) de 2011 o Diretor da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, ao apresentar o “Edital do programa de apoio à tradução e publicação de autores brasileiros no exterior” (do Ministério da Cultura e Fundação Biblioteca Nacional; disponível em: http://www.bn.br/portal/arquivos/pdf/Edital-de-Traducao-FBN-MINC-2011-2012.pdf) situou a questão da exportação da literatura brasileira no centro da proposta. Comentou algumas das diferentes iniciativas que estavam sendo adotadas ou em preparação,3 não apenas para Frankfurt 2013 mas também para a Feira de Bogotá (2012) e a Feira de Bolonha (2014), em que o Brasil será o país homenageado.

A manchete da entrevista publicada no site da Publishnews,4 de 13/07/2011, não deixa dúvidas: “É hora de internacionalizar a literatura brasileira”.

Amorim, não apenas nessa entrevista, como também na apresentação do programa de Bolsas na IX edição da Flip (2011) ou na XV Bienal do Livro do Rio de Janeiro (2011), insiste naquilo que talvez poderíamos chamar um “plano de metas”, um plano estratégico, a médio e longo prazo. Não chama muito a atenção para o incremento econômico dessas bolsas e sim para o fato de se tratar de uma iniciativa não isolada, mas que se “insere na condição de política pública que deve atravessar vários governos” e cujo orçamento está garantido durante esta década, graças ao Fundo Nacional de Cultura.

Na entrevista citada, da autoria de Maria Fernanda Rodrigues (2011b), incide em vários momentos na importância da ação que implica esse Edital: [End Page 152]

Algo importante de se observar é que se trata de uma política de internacionalização da literatura brasileira. Não criamos um programa para participar de Frankfurt. Frankfurt, na verdade, é uma boa motivação para o Brasil fazer aquilo que está na hora de...

pdf

Share