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  • A pau a pedra a fogo a pique: Dez estudos sobre a obra de Paulo Leminski by Marcelo Sandmann
  • Solange Fiuza Cardoso Yokozawa
Sandmann, Marcelo (org). A pau a pedra a fogo a pique: Dez estudos sobre a obra de Paulo Leminski. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado da Cultura, 2010. 272 pp.

A obra de Paulo Leminski é expressão de uma inteligência múltipla e inquieta, indo desde a aventura textual concretista de filiação joyceana do Catatau, romance admirado pelos receptores mais exigentes, passando por biografias e traduções, até letras de música e tercetos líricos e/ou humorísticos de grande penetração pública. Entre o que irmana essa pluralidade criativa está uma aguda consciência crítica, que fez de Leminski o primeiro crítico de si mesmo; um crítico que refletiu sobre sua criação e a justificou, mas também colocou em xeque pressupostos adotados, se contradisse, refez caminhos. Como Drummond, Leminski incorporou a crítica ao próprio fazer artístico, mas também a formulou em ensaios e fragmentos e nas famosas cartas-poema enviadas ao poeta e amigo Régis Bonvicino.

Criação de um produtor crítico, a obra de Leminski tem visto renovar-se, mais de vinte anos depois da morte do autor, o interesse da crítica especializada por ela, como o atesta A pau a pedra a fogo a pique: dez estudos sobre a obra de Paulo Leminski, lançado em 2010 pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná.

O livro, organizado por Marcelo Sandmann, da Universidade Federal do Paraná, reúne trabalhos de onze pesquisadores de universidades do Sul e Sudeste do Brasil e de uma universidade norte-americana. Versando sobre aspectos diversos da obra leminskiana (os haicais, os "anseios crípticos," as relações com James Joyce e a MPB, o romance Agora é que são elas, o "latim de bandido" e outros aspectos tais que), A pau a pedra a fogo a pique, título desentranhado de um poema de Leminski, tem o grande mérito de proporcionar uma visão crítica mais completa da produção multifacetada do autor. Também, não se trata de [End Page 275] trabalho de detratores ou amigos, mas, como adverte o organizador e a leitura extensiva da obra confirma, tem a seu favor a isenção partidária.

Além disso, alguns trabalhos do livro são merecedores de uma atenção particularizada, seja pela acuidade, pelo rigor crítico ou mesmo por uma abordagem que ultrapassa a própria obra de Leminski. É esse o caso do capítulo "'Na cadeia de sons da vida': literatura e música popular na obra de Paulo Leminski," de Marcelo Sandmann, que não se limita ao Leminski letrista, como se poderia supor. O autor passa em revista trabalhos clássicos sobre a canção popular publicados nos anos 60 e 70 e que contribuíram para redefinir o (entre)lugar dessa canção entre os gêneros artísticos. Seguindo esses trabalhos, lembra que os poetas canônicos de boa parte do séc. XX são essencialmente poetas do livro e que esse quadro começa a se reconfigurar a partir dos anos 50, com a Bossa Nova e Vinícius de Moraes, e chega reformulado ao final do séc. XX, quando alguns nomes mais significativos da poesia brasileira são também letristas. É o caso de Leminski, cuja inserção na MPB confirma uma tendência da época de ruptura de limites entre arte culta e popular e de massa, entre poesia informada e letra de canção, entre experimentação e desejo de comunicação. Na esteira de considerações do próprio Leminski, observa o ensaísta que a música popular se afigura ao autor de "Verdura" como estratégia de inserção em um contexto mais amplo. Depois do experimentalismo de Catatau, o desejo de penetração pública. Assim, pois, é dentro de um panorama mais abrangente que Sandmann pensa a relação de Leminski com a MP: como ele percebia essa música, como avaliava o papel de...

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