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Reviewed by:
  • Luso-American Literature: Writings by Portuguese-Speaking Authors in North America
  • Débora Racy Soares
Moser, Robert Henry, e Antonio Luciano de Andrade Tosta, eds. Prefácio de George Monteiro. Luso-American Literature: Writings by Portuguese-Speaking Authors in North America. New Brunswick: Rutgers UP, 2011. Pp. 375. ISBN 978-0-8135-5058-9.

Qual é o som da voz—ou, antes, das vozes—dos autores de língua portuguesa nos Estados Unidos? E ainda: seria possível identificar, em meio ao burburinho de alcances sonoros tão distintos, um fio condutor? Estas são apenas algumas das indagações que motivaram Robert Henry Moser e Antonio Luciano de Andrade Tosta na organização da importantíssima coletânea Luso-American Literature: Writings by Portuguese-Speaking Authors in North America.

O brilhante prefácio de George Monteiro dá pistas do que o livro-catatau reserva: o desejo de matar saudades—tanto do passado quanto, paradoxalmente, do futuro—através da língua-memória. Dividido em três partes, este livro orquestra vozes de autores portugueses, brasileiros e cabo-verdianos, respectivamente. Embora a presença destes últimos seja diminuta em relação ao conjunto de textos precedente, a reunião de autores de Cabo Verde, que vêm sendo condenados, invariavelmente, seja ao esquecimento, seja à ignorância, é de suma importância histórico-literária.

É interessante perceber que, nos casos em que houve tradução para o inglês, a força da língua-mãe—ou, deveríamos dizer no plural, das línguas-mães, como o crioulo e o português brasileiro—não se perde na tradução. Para além da acertada manutenção de algumas palavras das línguas de partida, é como se a passagem pelo idioma—a um só tempo estranho e estrangeiro—ajudasse a revelar o que fica latente (a ambiguidade do desejo de assimilação) no original.

Quando a presença do bilinguismo torna-se evidente, através da recorrência do code-switching, a dispersão das comunidades falantes na particularidade das diferenças linguísticas redunda em certa identidade/identificação, ainda que pela força do hífen. Embora falem línguas diferentes, todos os autores se encontram diante das mesmas questões—sobretudo as relacionadas à imigração e ao ajuste, permanente ou temporário, a uma nova realidade cultural—o que resulta em poemas, ensaios, memórias e contos, com temáticas parecidas.

Como foi pontuado pelos organizadores, na introdução, a proposta da coletânea é muito mais abranger o "literary ethnoscape of cultural encounters, of hyphenated experiences, within an 'imagined world' located somewhere between North American society and the Lusophone diasporas", do que ser a "written expression of a single, cohesive ethnic group" (28). De fato, neste Luso-American Literature, a inevitável passagem pelo outro, para o outro, não deixa de problematizar a noção de identidade, que atrelada à de nação, ganha se pensada a partir das ideias de Appadurai ("diasporic public spheres") e de Benedict Anderson ("imagined communities").

Neste ponto, torna-se evidente que a língua, embora seja apenas um dos critérios definidores do sentimento de nacionalidade, não o sustenta por si. É certo: à medida que falam em inglês, de modo algum os autores presentes no livro se tornam menos portugueses, brasileiros ou cabo-verdianos. Pelo contrário, quando esta comunidade "imaginada"—quiçá imaginária ou literariamente imaginável—solta suas vozes, transcende as fronteiras pátrias, reconfigurando seu status de "silent, invisible minority".

A força maior deste Luso-American Literature—cujo hífen do título deve ser lido como união e afirmação das diferenças—é seu ineditismo. Pela primeira vez, graças à iniciativa dos organizadores, textos bastante significativos de cerca de cinquenta e dois autores lusófonos foram reunidos em antologia, nos Estados Unidos. Embora predominem, na segunda parte, vozes de vinte e quatro autores brasileiros dos séculos XX e XXI, uma delas, em especial, soa deslocada em termos temporais, mas sem prejuízo para o conjunto. Trata-se do importante poeta Joaquim de Sousa Andrade, o Sousândrade, cujas obras, produzidas em pleno século XIX, já antecipavam o crescimento...

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