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YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY DE JANELAS E CALÇADÕES: COPACABANA NA FICÇÃO DE SONIA COUTINHO CRISTINA FERREIRA-PINTO BAILEY A romancista e contista baiana Sonia Coutinho pertence a um importante elenco de escritores brasileiros que, tanto no gênero da crônica propriamente dita (por exemplo, João do Rio, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos), como através da narrativa de ficção (Machado de Assis, Lima Barreto e Rubem Fonseca, entre outros) fizeram a crônica do Rio de Janeiro e deixaram registrados em suas obras retratos memor áveis da paisagem urbana carioca. Coutinho mudou-se de Salvador para o Rio de Janeiro em 1968 e, desde então, a Cidade Maravilhosa tem sido cenário e, pode-se dizer mesmo, personagem, de inúmeros de seus contos e romances. Na verdade , a ficção de Coutinho frequentemente coloca em oposição as duas cidades, o Rio e Salvador, esta aparecendo em algumas obras com o nome fictício de Solinas. Salvador/Solinas não alcança exatamente o estatuto de cidade mítica porque representa um mundo distópico, mas é, sim, a cidade originária, o umbigo do mundo para onde retornam personagens de várias obras da autora, como a protagonista do romance Atire em Sofia (1989). Entretanto, esse retorno às origens nunca é perene, e as personagens deixam novamente Salvador/Solinas para o Rio, se é que não acabam assassinadas como a própria Sofia. Esse trajeto SalvadorRio , que as personagens de Coutinho repetem uma e outra vez, reflete a biografia da própria escritora, assim como também a refletem as andan- ças daquelas personagens que, uma vez no Rio, aí permanecem, testemunhas do cotidiano carioca, visto através das experiências femininas no microcosmo de Copacabana, “espaço privilegiado” na obra de Coutinho , segundo Beatriz Resende (57). A mulher solteira, sozinha, sem família, da classe média moradora de YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY 347 Copacabana, é a personagem paradigmática da escritora baiana. Aliás, tem sido este o aspecto de sua obra mais discutido pela crítica: suas protagonistas femininas e a luta que travam para alcançar independência e realização pessoal, profissional, psicológica e sexual. Cabe examinar a relação entre esse sujeito feminino e o espaço que ocupa, assim como a imagem do Rio de Janeiro, e em particular de Copacabana, que emerge da relação sujeito-espaço e que a autora registra em sua ficção. Dois estudos anteriores tratam da dimensão urbana da obra de Coutinho : um ensaio de Luiza Lobo (1996), que corretamente caracteriza as personagens femininas de Coutinho como flâneuses, andarilhas da cidade na tradição do flâneur baudelairiano; e um estudo de Lidia Santos (2007), dedicado a várias autoras brasileiras, em que discute brevemente a narrativa de Coutinho como moderna (e não pós-moderna), pois retrata a “experiência da metrópole,” ou seja, uma cidade que “still maintains the special atmosphere of certain neighborhoods such as Copacabana which, though decadent, offer the citizen a sense of belonging and recognition ” (Santos 39). A peregrinação urbana das personagens, especificamente aquelas que transitam pelo espaço de Copacabana, será o elemento articulador da sintaxe urbana que Coutinho arma em sua ficção e através da qual registra aspectos reveladores da vida no famoso bairro carioca, o qual, por sua vez, constitui um microcosmo representativo da vida cosmopolita . Deve-se esclarecer, no entanto, que a Copacabana de Coutinho é signo da pós-modernidade, pois embora a ficcionista tenha surgido na cena literária brasileira no final da década de 1960, período ainda marcado pela modernidade e pelo Modernismo brasileiro, o melhor de sua ficção aparece a partir de 1978 e explora tropos constantes da pós-modernidade , tais como alienação, exílio, deslocamento, movimento no tempo e no espaço. Além disso, sua linguagem narrativa apresenta elementos da literatura pós-moderna, como por exemplo, a metaficção, auto-referencialidade , mis-en-abîme, ambigüidade, escrita fragmentária e labiríntica. Estes elementos levaram Nizia Villaça (1996) a descrever a narrativa de Coutinho como expressão de uma estética neo-barroca. A...

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