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Reviewed by:
  • Conferências sobre Joaquim Nabuco
  • Lilia Moritz Schwarcz
Conferências sobre Joaquim Nabuco. 2 vols. Rio de Janeiro: Bem-te-vi Produções Literárias, 2010. [Joaquim Nabuco em Yale: Centenário das conferências na universidade. Ensaios comemorativos. Org. Kenneth David Jackson. Trad. Christopher Peterson. 273 pp. Joaquim Nabuco e Wisconsin: Centenário da conferência na universidade. Ensaios comemorativos. Org. Severino J. Albuquerque. Trad. Leonardo Fróes. 430 pp.]

Numa animada troca de correspondências entre o então jovem Carlos Drummond de Andrade e seu mentor intelectual Mário de Andrade, o autor de Macunaíma arriscou uma definição certeira para explicar a situação vivenciada por boa parte dos intelectuais brasileiros de sua época. Chamou de "mal de Nabuco" a mania que tomava os bem pensantes, e que se mantém em certa medida até os dias de hoje, de manter os olhos voltados para a Europa mas os pés bem assentados no Brasil. Tal dilema faria com que muitos intérpretes nacionais buscassem reconhecimento apenas fora do país, como se lá habitasse uma espécie de selo de qualidade. Crítico e mordaz, Mário desdiz logo seu próprio ditado, mostrando como o segredo não estaria em copiar modelos de fora; melhor dialogar com eles. Aí estava uma boa pitada modernista. Não por acaso, a personagem lembrada para conformar a expressão de Mário foi Joaquim Nabuco (1849–1910), intelectual, jornalista, ativista, livre-pensador e diplomata; presença fundamental na cena brasileira de finais do século XIX e inícios do XX.

Até hoje reconhecido como um dos mais notáveis intelectuais de seu tempo, Nabuco ficou famoso sobretudo por conta de seus escritos a favor da abolição da escravidão no Brasil. É possível arriscar dizer, porém, que existem muitos Nabucos em um só. Em primeiro lugar, foram várias as recepções que a personagem recebeu: foi primeiro reconhecido como a grande figura do Império e da primeira República – o mais cosmopolita dos políticos; anos depois seria tomado por "estrangeirado" – um europocêntrico quando na Europa, um americanista quando embaixador nos Estados Unidos; para ser recuperado mais recentemente como pensador da nacionalidade brasileira. Seria possível mencionar, também, diversos Nabucos, a depender do momento de sua vida: o menino moço que passou a infância no famoso engenho Massangana; o ativista político e social que emocionava a todos com seus discursos inflamados; [End Page 131] o dândi da Corte do Rio de Janeiro que se vestia à moda; o jornalista das ruas de Londres que dominava seu ofício; o fundador da Academia Brasileira de Letras que batalhou por uma posição autônoma; ou o embaixador que atuou primeiro em Londres e depois em Washington. Foi por lá, a partir de 1905 e durante a presidência de Theodore Roosevelt, que passou a advogar as teorias do panamericanismo, e que o monarquista a serviço da República defendeu "a civilização do Brasil."

Na condição de primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, no período largo que vai de 1905 a 1910, Nabuco teve voz ativa no debate que então se entabulava entre os dois países e também acerca da América Latina. Além do mais, teve tempo suficiente para mudar de opinião sobre a América do Norte, que até então causava-lhe certa apreensão. Seus parâmetros vinham todos do Velho Mundo, em especial de Londres e de Paris, e era com certo descrédito que observou sua sociedade e costumes. Mas Nabuco foi se acostumando, recriou sua agenda de atividades políticas, sociais e culturais e acomodou-se aos novos tempos republicanos; fossem eles passados no Brasil ou nos Estados Unidos.

Foi nesse contexto que Nabuco proferiu uma série de conferências em seis universidades norte-americanas, mais exatamente entre os anos de 1908 e 1909. Nessa ocasião, já completava sua maioridade de 18 anos vividos na América do Norte e parecia preparado para se debruçar sobre essa realidade, ou mesmo para comparar os dois países em...

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