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  • Cora Coralina: Quem é Você?
  • Darcy França Denófrio (bio)

O que se poderia dizer, como preâmbulo, a um leitor estrangeiro acerca dessa escritora brasileira, cujo nome literário é Cora Coralina?

Embora cronista de seu tempo e também contista, trata-se de uma das vozes líricas mais singulares e consagradas no Brasil contemporâneo. Sua obra poética já vem sendo estudada em meios acadêmicos da Europa e dos Estados Unidos, por meio de artigos, dissertações de mestrado e, até mesmo, tese de doutorado (PhD), como os trabalhos já defendidos na Sorbonne e na Complutense de Madri, respectivamente.

Cora Coralina, que viveu quase 100 anos, nasceu no século XIX, na cidade de Goiás, mais precisamente, a 20 de agosto de 1889, pouco antes da proclamação da República no Brasil. Por isso mesmo afirma ela - no poema "Cora Coralina, quem é você?", de Meu livro de cordel -, que pertence "a uma geração/ ponte, entre a libertação/ dos escravos e o trabalhador livre./ Entre a monarquia/ caída e a república/ que se instalava".

Morreu em Goiânia, capital do Estado de Goiás, a 10 de abril de 1985, aos 96 anos de idade. Publicou o seu primeiro livro de poemas aos 76 anos de idade, embora estivesse ligada a movimentos literários, na antiga capital de seu estado natal, desde a adolescência. Também colaborou com artigos em jornais de sua cidade e, depois que deixou Goiás, em outros do Estado de São Paulo, onde ela viveu 45 anos.

Autodidata, freqüentou dois ou três anos de escola particular, havendo controvérsias sobre esse lapso de tempo. Na verdade, foi ávida leitora e, graças à sua mãe, que assinava, à época, um dos melhores jornais da capital do país (O Paiz), tomava conhecimento daquilo que se passava no mundo. Freqüentava também, com suas irmãs, graças ao exemplo de sua mãe, o Gabinete Literário Goiano, da cidade de Goiás, cujo acervo integrava obras literárias consagradas, mesmo de autores estrangeiros, além de obras filosóficas e científicas.

Mal saída de seus 20 anos, apaixona-se por um advogado paulista que havia assumido o cargo de Chefe de Polícia da cidade de Goiás. Descobre-se, depois de sua mãe havê-lo considerado um bom partido para a sua filha, que ele era um homem casado em seu estado de origem. A mãe, viúva por três vezes, faz forte oposição ao envolvimento amoroso do par, além de fazer gestões para que ele, forasteiro, abandonasse imediatamente a cidade. Ameaça levar a filha para uma reclusão na Fazenda Paraíso, propriedade do avô [End Page 140] de Cora Coralina, onde ela havia passado belos dias em sua infância, quando sua mãe precisou da ajuda do pai, em ocasião de viuvez. A fazenda Paraíso foi o único paraíso que a menina (Aninha naquele tempo) conheceu um dia. Mas, agora, o motivo seria outro: Cora Coralina estava grávida. A fazenda funcionaria como um feudo ou um monastério onde ela seria encerrada. Não estaria em suas mãos a vida que ela abrigava em seu ventre. Cora Coralina e o advogado Cantídio, num gesto que escandalizou a velha capital, fogem para São Paulo. Levam, nessa aventura, 14 dias a cavalo e dois de trem-de-ferro para alcançarem a capital de São Paulo. Depois, se estabelecem no interior desse estado.

Vivendo aquele duro tempo de constrições morais e religiosas, a sociedade não perdoou os infratores, embora a mãe de Cora Coralina houvesse, com o tempo, liberado o seu perdão à filha. Mesmo 45 anos depois, e já se havendo casado legalmente quase ao fim da vida de seu eleito, a poetisa não foi bem recebida em sua volta à cidade natal e nem foi considerada uma figura grata a muitos conterrâneos ao longo de sua vida longeva. Por estranho que nos pareça, ainda há resquícios de má vontade contra ela e mesmo preconceito...

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