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Reviewed by:
  • Central at the Margin: Five Brazilian Women Writers
  • Sonia Roncador
Mautner Wasserman, Renata R. Central at the Margin: Five Brazilian Women Writers. Lewisburg: Bucknell UP, 2007. Index. 214 pp.

Em seu mais recente livro, Central at the Margin: Five Brazilian Women Writers, Renata R. Mautner Wasserman se propõe a estudar um conjunto de obras de autoria feminina no Brasil que, por mais distintas entre si, ocupam o “centro” da “margem,” ou margens às quais foram associadas—literatura do terceiro mundo, narrativa feminina, relato testemunhal. A inversão consciente do título do ensaio de John Beverley sobre a literatura de testemunho latino-americana, “The Margin at the Center: On Testimonio (Testimonial Narrative)” (1989), é aqui, portanto, sintomática. Wasserman pretende analisar escritoras por assim dizer representativas da porção “canônica” da literatura feminina brasileira, a saber: Júlia Lopes de Almeida (1867–1934), cuja intensa e influente produção intelectual nos chamados anos da Belle Époque tropical lhe está rendendo destaque dentre as escritoras finisseculares mais estudadas hoje no Brasil; as “grandes damas” da literatura brasileira, Raquel de Queiroz (1910–2003) e Lygia Fagundes Telles (b. 1925), ambas consagradas como membros da Academia Brasileira de Letras; a célebre Clarice Lispector (1920–1977), ou, nos termos de Wasserman, “the closest to the center of the ‘center’” (103); e, finalmente, a “Cinderela Negra” das letras nacionais, Carolina Maria de Jesus (1914–1977), esquecida do público após o sucesso relâmpago de seu diário, Quarto de despejo (1960), mas recentemente ressuscitada pela crítica sócio-literária.

Está de antemão declarado neste livro que sua autora não compartilha da noção ideologicamente uniforme da “margem,” sobretudo a preferência por uma margem exemplar ou heróica. Tal preferência, como se sabe, tem por objetivo último redimir a culpa dos intelectuais do “centro” (primeiro mundo, classe social alta, raça branca), além de funcionar idealisticamente como “the distressed area where one might go to revitalize or interrogate a tired cultural practice” (12). A partir da trágica carreira literária de Carolina de Jesus, Wasserman, por exemplo, comprova uma vez mais que “somente quem gosta de pobreza é intelectual”—uma pobreza, a bem dizer, revolucionária, já que as aspirações “burguesas” de Carolina à ascenção social e aceitação de seus livros “mal escritos” pelo establishment literário descontentaram os ideólogos da esquerda no Brasil, incluindo seus membros da “cidade das letras.” Além de questionar os parâmetros com os quais foram construídas as noções marxistas de “centro” e de “margem,” Wasserman igualmente aponta para os limites do discurso literário feminino, que não se pode naturalizar com um conjunto fixo de “certain preoccupations or even certain stylistic traits conventionally called feminine” (14). Como quaisquer práticas discursivas, os textos produzidos por escritoras mulheres se inserem em contextos históricos específicos, absorvem signos oriundos de outros discursos (literários ou não) e, assim, atuam em certos pactos simbólicos ou no tráfico de representações dos temas pertinentes à sua época. Premissa esta que a possibilita, por exemplo, contemplar os aspectos realistas e, a bem dizer, “anti-femininos,” da obra de Júlia Lopes de Almeida— a [End Page 211] “irreligiosidade” de certos enredos, assim como sua preocupação pela economia “not just domestic, but national” (34)— que transgridem sua imagem bem-comportada de “escritora senhora,” tanto quanto o consenso crítico em torno ao seu projeto pedagógico-literário de promoção do “culto à domesticidade.”

Como Wasserman demonstra nos casos de Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles, muitas vezes o feminino convencional se associa à literatura de mulheres como um elemento a posteriori, ou como um (d)efeito de leitura e não propriamente parte integrante da obra. Nesse sentido, os romances sociais de Queiroz foram lidos como o suplemento dócil feminino, que possibilitou “suavizar” o realismo “brutal” da prosa de seus companheiros masculinos de geração (61); leitura esta que negligencia não somente o pioneirismo de textos como O Quinze (1930), como também sua construção de um matriarcado literário fundado, paradoxalmente, no mesmo sistema econômico-social...

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