Cartografia I
o cultivo no mar
é devoração
: a cada movimentode escuna
um fruto se desgasta
para intuira empresa que dirige
esse campo
é urgente revolvê-lodesde a medula
—à superfície
o rascunho dos embatesrevela muito &
pouco sobre o inferno
submersoa palavra-sonar
traz à tona
o espólio que, umdia corpo,
atravessou o próprio
meridiano: para esse o
esquecimento e a sede
como sinais [End Page 449]ou nomes
em outra
sintaxe figurados
Manhã
: antes que o fisgo
anuncie a tartaruga reagimos
à exigência do barcoainda se escuta
o ranger da árvore-mãe, o crepitar
sob os machados—estávamos cegos de frio
e receosos
da agressão que os deuses fariam
explodir do lodoao longe, porém, via-se o barco
não os fungos
e o armazém de insetosatacamos
cientes de que a árvore
nos restituiria
o ferro
de embaraçar a caçao tronco aguilhoado arrastou
meditações da flora
farpas
que desequilibram a proadaí a guerra para tirar
o fisgo
levar à praia os homens
e não morrer na tartaruga
que matamos—estávamos cegos, diz
o timoneiro
éramos da terra, naquele dia [End Page 450]
agora o mar
nos caleja o fígado
Colisão
o interesse dá sinais
de uma ilha
onde as vontades
aportam
para a separação: a máquina
despedaça os ânimos
o que entalhamos
na árvore
abdicou de seu êxito(não fomos rendidos
pela espreita?)
mas certa linguagem
redimiu-noso barco que se impôs à orquídea
trepida
antes de esmorecernão sabe se morrem em si
o mar
e o continente: a máquina
não distingue mutilação
fustiga a tartaruga e o fêmur
de quem a raptoua voragem muda de fábrica
também os ofícios
& rendimentos
as regras
& mercadorias
os contratos
& palavras [End Page 451]
a máquina não se prende ao porto
nem aceita a convenção
das cartasterritório em si mesma
já não devora
os escalpos: a máquina
em nova política, administra
Navio
: a máquina são várias
como os seus nomes
alianças
& cálculos: a que ora se apresenta
é um útero às avessasum feto trocado
por fumo e aguardente
bóia
alheio ao mercadohá quem o destine à roça
quem o excite
para a fuganos porões da máquina
vegeta
contrário ao que eraa máquina mesma
pouco revela de si—navega por que prêmios
sua rota
vale a pena? [End Page 452]quanto mais se lava
maior custo
gera em seus lucros: a máquina
se expande
a golpes e cólicasa cada ângulo
um zero
ressecando as costasum piercing
em acusação às idéiasa máquina se ilustra
de anfíbios
mas não explica
suas divergências(ventre
de morte,
país
de muitas
línguas)o exílio é um saldo
na linguagem
o que resta do mar
se mistura à salivano convés tudo
comunica
o parcial desembarque(uma vez
em curso
aportar
é a passagem)os que estiveram
na máquina trazem-na
em quebra-cabeças: são várias [End Page 453]
e fendem na página
a migração
da sintaxe
Linguae
o mundo parece
outra figura
se aceitamos
o verbo sem contráriomas se o
vivido dispara
o míssil
das perguntas?cabemos
no idioma a que não
se ajusta
o país de húmus?esse idioma
percorre os artelhos
do que
falamos?: eu memo
é cariocanga
(i circle
the namelessbody): eu memo
é capicovite
(glasses are shining
i know
nothing
catch
nothing): eu memo
é candandumba [End Page 454]serena
(but it is silence
offered up
the ring)la pierre de notre
origine
s'aniquile
maisje suis un autre
avec
ma parfaite
hallucinationa pronunciar
uma novaespessura
àtòrì àtòrì
bá organiz
mi e
to a
iyè minha
tèmi própria...