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  • Uma leitura da modernidade em José de Carlos Drummond de Andrade
  • Vivaldo A. Santos (bio)
Abstract

This article analyzes the book José by the Brazilian poet Carlos Drummond de Andrade, focusing on the return of individualism in his poetry. I propose that his individualism makes a transition from its place in his prior works to that of a generic one. Drummond expresses this by emphasizing the social changes, rationalization, and the impact of modernization on the human subject. With special attention to the experience of the self in the urban context, I point out how his view of the modern city is key to understanding his nihilism and, most importantly, his tragic view of modernity.

O propósito deste artigo é examinar a questão da subjetividade na coleção de poemas José (1942) de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), naquilo que vem a constituir-se numa visão trágica da modernidade.1 Drummond na coleção de poemas de 42 difere significativamente, por exemplo, da visão da subjetividade de Mário de Andrade, expressa na idéia do cárater indefinido, presente no seu Macunaíma, O Herói Sem Nenhum Caráter, bem como do próprio Drummond, esboçado na fragmentação do sujeito lírico em seu antológico "Poema de Sete Faces," que colocam em questão a crença na individualidade e identidade única do indivíduo. Do meu ponto de vista, Drummond em José recupera certa noção clássica da subjetividade como algo fixo e estável, posta em xeque pela própria modernidade.2 Para este estudo, tomarei como marco de análise a coleção José, por considerá-lo o ponto crítico da crise individual no meio às poéticas mais abertas ao social que caracterizam Sentimento do Mundo (1940) e A Rosa do Povo (1945). Cabe dizer que a minha leitura de se ancora de alguma forma também nos livros Alguma Poesia (1930)e Brejo das Almas (1934), por trazerem eles em si certos elementos iniciais da constituição do individualismo que se verifica em José.3 [End Page 20]

I. A configuração do individualismo: o lugar da intimidade

Quando comparado às obras anteriores, José é relativamente uma obra menor em termos do número de poemas, constando de apenas 12, porém na sua força lírica se vê a retomada de certas preocupações líricas comuns à poética drummondiana, tais como o individualismo fundado no tratamento da temática da terra natal, da família, como reflexos da visão íntima da modernidade no que diz respeito à sua experiência frente às transformações sócio-culturais advindas com o processo de modernização.

José revela que o elemento individual como fundamento da poética drummondiana não deixou de existir, senão que adquiriu força maior naquilo que diz respeito à dúvida quanto à possibilidade de interação entre o sujeito lírico e o mundo.Quando voltamos os olhos para as primeiras obras de Drummond, observamos que o sentido do individualismo ora se configura através da ironia do sujeito lírico ora por meio do sentido de impossibilidade desse sujeito frente à realidade. No segundo caso, o individualismo caracteriza-se, a princípio, como parte de uma atitude poética onde se vislumbra uma evidente predisposição por parte do sujeito ao isolamento em função da consciência da sua precariedade, como revelam os versos de "Poema de Sete Faces," AP ("Meu Deus, por que me abandonaste / se sabias que eu não era Deus / se sabias que eu era fraco?"), ou em "Coisa Miserável," de BA ("É melhor sorrir / (sorrir gravemente) / e ficar calado / e ficar fechado / entre duas paredes, / sem a mais leve cólera / ou humilhação"). Quando distinto dessa solidão metafísica, o isolamento se configura como uma preocupação com o estado anímico do sujeito, sobretudo na crença na verdade do ser individual sobre qualquer outra coisa, como se vê nos poemas de AP "Nota Social" e "Infância" ("Eu sozinho menino entre mangueiras / lia a história de Robinson Crusoé,/ Comprida história que não acaba mais /[...] E...

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