Abstract

Em meados do século dezessete, com a participação das tropas militares oriundas da colônia do Brasil no episódio da expulsão dos holandeses da África centro-ocidental, os laços entre as colônias portuguesas do Brasil e Angola aumentaram gradativamente. Oficiais coloniais brasileiros, assim como degredados e comerciantes de grosso trato, chegaram ao porto de Benguela com objetivos e perspectivas diferentes. Enquanto uns foram deportados por crimes contra a coroa ou contra indivíduos para o porto conhecido como o "tumbeiro do homem branco," outros chegaram em busca de mão-de-obra escrava mais barata e abundante do que em outros portos africanos. Ocupando postos na administração colonial, americanos, brasílicos ou brasileiros, como eram identificados nas fontes primárias, não chegaram a formar uma comunidade à parte durante o século dezoito. Com a independência do Brasil, um movimento liderado por brasileiros procurou unir a colônia de Benguela ao nascente império, com o intuito de evitar a pressão britânica interessada em abolir o tráfico. O movimento fracassou e foi duramente reprimido pelas autoridades portuguesas. Porém, o conflito revela a separação da comunidade de brasileiros a princípios do século XIX, que já não se via mais identificada e representada pela coroa portuguesa. Esse artigo explora os laços que uniam as colônias do Brasil e Benguela durante o período 1650-1850, buscando enfatizar o papel dos indivíduos nascidos no Brasil no comércio de escravos e na emergência do porto de Benguela como num dos mais importantes no Atlântico Sul.

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