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YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY TEMPOS DE BORGES, SOMBRAS DO BRUXO: A INTERTEXTUALIDADE COMO METÁFORA DO ETERNO EM MEMORIAL DE BUENOS AIRES, DE ANTONIO FERNANDO BORGES LUCIANA NAMORATO COM a publicação de Memorial de Buenos Aires (2006), o escritor brasileiro Antonio Fernando Borges completa uma trilogia que o crítico Sérgio Rodrigues descreve como “tão obsessiva quanto corajosa”. Em sua coleção de contos Que fim levou Brodie? (1996), Antonio Borges toma emprestado temas recorrentes na obra do argentino Jorge Luis Borges – como a sensação de terror diante de espelhos, a aproximação lúdica entre realidade e sonho, e a paixão por bibliotecas – de forma a dar continuidade ao mundo fictício e filosófico de seu homônimo argentino. Em sua segunda publicação, o romance Braz, Quincas e cia. (2002), o Borges brasileiro estabelece um diálogo com Machado de Assis, transformando-o em personagem. Um narrador que se comunica do além-túmulo, capítulos curtos e constantes digressões e diálogos com o leitor são alguns dos ecos machadianos nesse romance. Em entrevista a Sonia Coutinho, Antonio Borges comenta sua fascinação por seus predecessores , sublinhando uma semelhança entre os dois que é de fundamental importância para a compreensão da gênese de sua própria obra: Quem comparar, vai se espantar: Machado tão pé no chão, tão pessimista, e o Borges aquele delirante [. . .]. Com o otimismo de um homem que pensava – não, não quero esse mundo, vou inventar outro para mim. Mas, na verdade, como o Machado, Borges é um homem da leitura, do gabinete, um tímido, introvertido, acreditando mais na literatura do que na vida. (Coutinho) Também ele um autor de leituras, Antonio Borges promove, em seu mais recente romance, o encontro entre as obras desses dois “homens de YYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY 255 gabinete”. Este ensaio analisa Memorial de Buenos Aires a partir de sua retomada dos debates sobre o conceito de tempo presentes na obra de Machado de Assis e de Jorge Luis Borges, enfatizando as conexões entre as feições particulares que a noção de tempo adquire na obra do último e suas reflexões a respeito do embate entre os anseios de originalidade e o chamado da tradição que (pro)move o processo de escrita. A FORMAÇÃO DE UM ESCRITOR: ENTRE A HERANÇA LITERÁRIA E A INDIVIDUALIDADE A influência é o tema central de Que fim levou Brodie?, coletânea que homenageia a obra de Jorge Luis Borges deglutindo-a, como se percebe por meio do enredo de contos como “Que fim levou Brodie?” – que tematiza o canibalismo literal e literário – e “Com toda certeza, quem sabe?” – em que um personagem encontra-se com seu duplo, ressoando os contos “Veinticinco de agosto, 1983” (La memoria de Shakespeare , 1983) e “El otro” (El libro de arena, 1975), de Jorge Luis Borges. Os contos dessa compilação discutem o papel do escritor em relação a seus antecessores literários.1 Indagações a respeito da individualidade e da originalidade da voz autoral ressurgem em Braz, Quincas e cia., romance cujo narrador em primeira pessoa é o ficcionista Antonio, sobrinho-neto de Machado de Assis. Com tons de romance policial, o enredo de Braz organiza-se em torno de uma conspiração com vistas a exterminar o individualismo. O desfecho da trama revela que tal complô fora liderado por seguidores das idéias do avô do narrador, que, magoado com o sucesso e o supostamente exagerado individualismo de seu irmão, Machado de Assis, culpava o individualismo pela decadência do mundo e por seu fracasso pessoal.2 Em Memorial de Buenos Aires, Antonio Borges dá continuidade à investigação sobre a influência literária e a individualidade do escritor a 256 ROMANCE NOTES 1 Em Que fim levou Brodie?, o canibalismo literal ecoa o canibalismo literário, e a investigação a respeito da individualidade dos personagens vincula-se aos debates sobre a identidade autoral, inevitavelmente modificada a partir do momento em que um escritor se insere na tradição literária e no conjunto de sua própria obra. 2 A menção...

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