Abstract

No século XIX muitos estancieiros do Rio Grande do Sul se estabeleceram no Uruguai, levando consigo seus escravos. Ao mesmo tempo, muitos escravos fugiram do Rio Grande do Sul ao Uruguai ou à Argentina, dificultando a recaptura por brasileiros ou ganhando a liberdade oficial. A combinação do processo abolicionista uruguaio, da continuação da escravidão no Brasil, das guerras civis em ambos os países e das migrações internacionais de escravos e escravocratas brasileiros gerou tensões internacionais e novas questões legais. O artigo focaliza as estratégias de escravocratas nesse contexto para manter o cativeiro de trabalhadores africanos e afro-brasileiros, estratégias de escravos para alcançar a liberdade e estratégias de pessoas livres de ascendência africana para conservar a liberdade, focalizando casos de escravização no Brasil de uruguaios livres e de re-escravização de africanos ou afro-brasileiros que haviam sido libertados em função de sua presença no Uruguai. A pesquisa se baseia principalmente em inquéritos e processos criminais por "reduzir à escravidão a pessoa livre" em Pelotas, principal mercado de escravos no sul do Rio Grande do Sul. Esses casos geralmente chegaram à atenção da polícia pelos esforços do pr—prio escravizado ou dos seus familiares, muitas vezes com a ajuda do vice-cônsul uruguaio. Embora vários dos escravizados tenham recuperado a liberdade, os escravizadores quase nunca foram condenados.

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