Abstract

Este ensaio é um estudo do conto "O crime do professor de matemática" de Clarice Lispector, no qual o crime que dá título à história é instigado pela recusa de um cão a ser chamado José. Como em muitas das obras de Lispector, um animal alheio que resiste às imposições desgastantes da subjetividade humana paga um preço—neste caso, o abandono. A maioria das críticas anteriores considerou o conto como uma demonstração da subjetividade existencial humana, apenas comprovando o reconhecido envolvimento de Lispector com o trabalho de Sartre. A narrativa, porém, apresenta como temas problemas de substituição e equações errôneas, de maneira que reduzi-la a uma questão sintética a respeito da condição universal humana é no mínimo insuficiente. Este ensaio examina o envolvimento de Lispector com Sartre, e principalmente a questão da arte engajada, a qual Sartre discute em O que é literatura?, à qual Theodor Adorno responde em seu ensaio, "Commitment."Este estudo analisa o significado da história do ponto de vista da recusa do cão vitimizado não somente de aceitar seu nome mas também de ser incluído nas diversas tentativas pelo professor de racionalizações humanistas ou de culpa existencial pelo crime cometido. A estrutura da análise é guiada por outro texto de Lispector, "A quinta história," o qual relata cinco diferentes versões de um evento similar ao crime do professor (neste caso, uma mulher extermina baratas). Cada versão salienta um aspecto diferente de uma competição entre o humano e o inumano, o significado—e o sujeito—da qual varia de acordo com a ênfase salientada. O conjunto das cinco versões vai além de um evento e seu significado humano para se tornar um registro de como uma história contada sobre tais coisas poderia repetir ou corrigir o crime relatado, e apresenta um argumento sobre o tratamento da agência na obra de Lispector e a criminalidade e a justiça da narrativa.

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