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  • Dicionário do movimento operário: Rio de Janeiro do século XIX aos anos 1920, militantes e organizações
  • João Alexandre Peschanski
Batalha, Cláudio H. M. Dicioná rio do movimento operá rio: Rio de Janeiro do sé culo XIX aos anos 1920, militantes e organizações. São Paulo: Editora Fundacã o Perseu Abramo, 2009. 304 pp.

No Rio de Janeiro do fim do século 19 surge um novo ator. Transforma o cenário político brasileiro e, superando a dinâmica de classe do período escravocrata, faz história. O operário, organizado ou não, se torna figura indispensável para o crescimento econômico da virada do século e, com a concentração urbana ligada ao industrialismo, modifica o sistema de representação política da República Velha. O operariado, a rede dos operários, é o novo ator; em lutas restritas aos espaços de trabalho ou mais amplas, direciona avanços sociais.

O Dicionário do movimento operário corrige uma lacuna da historiografia brasileira: constrói o perfil do operariado carioca até 1930. Com 839 verbetes sobre militantes e 397 entradas sobre organizações, o livro revela a diversidade do novo ator. Reúne dados biográficos sobre militantes progressistas e conservadores, lideranças históricas e personagens com atuações políticas curtas. As organizações incluídas - entre outras, associações, partidos e sindicatos - são integradas predominantemente por trabalhadores ou se voltam para a defesa do operariado. Dentre as fontes pesquisadas para a elaboração das entradas estão documentos das organizações, jornais e publicações oficiais. A preocupação em dar evidência às fontes contribui para pesquisas mais aprofundadas. Coordenados por Cláudio H. M. Batalha, dezenove acadêmicos participaram do projeto [End Page 255] do Dicionário, o primeiro de uma série de livros nesse formato com o perfil do movimento operário de outras regiões e períodos.

O projeto de Batalha se vincula à tradição não ortodoxa dos estudos sobre o mundo do trabalho. Na verve ortodoxa, a identidade do operariado é determinada pela condição objetiva dos operários, isto é, a não-propriedade dos meios de produção e a necessidade de dispor de sua força de trabalho. Nessa perspectiva, o amadurecimento político dos operários é crescente e inexorável. O determinismo e a não-falsificabilidade são alguns dos aspectos negativos dessa linha teórica. Na linha não ortodoxa, de E. P. Thompson, entre outros, a formação do operariado depende de contatos entre indivíduos e redes de solidariedade. Assim, a classe operária se forma no decorrer do processo político, estruturado pelas condições objetivas existentes; a pauta política do operariado se forma no processo de luta, com guinadas progressistas e conservadoras, levando em consideração escolhas individuais e estratégias de organizações diante de obstáculos conjunturais. O matiz não ortodoxo permite entender melhor variações - sucessos e fracassos - do operariado.

No Dicionário, o movimento operário carioca se forma nas conexões entre indivíduos e organizações. Para evidenciar as ligações, o coordenador usa o negrito para ressaltar, em cada verbete, militantes e grupos com entradas próprias. Apesar de atenderem ao principal critério para a inclusão no Dicionário -uma atuação mesmo que absolutamente mínima em alguma organização ou evento operário -, militantes "órfãos," ou seja, cujos verbetes não fazem conexões com outros militantes ou grupos, são analiticamente pouco relevantes, pois não se revelam os vínculos com o movimento operário. A decisão do Dicionário de incluir esses órfãos atende a preocupação de listar o máximo possível de pessoas. A visibilidade das conexões é fundamental no projeto que tem seu principal trunfo não na densidade das biografias, mas no mapeamento da rede do operariado. Pelas conexões visíveis no Dicionário costuram-se os alinhamentos e as rupturas no ator político nascente. Filiados de organizações crescem e decrescem, no decorrer dos anos. Organizações surgem...

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