Abstract

Uma das principais ênfases estéticas e ideológicas na cultura intelectual portuguesa das últimas décadas do século XIX deveu-se à campanha multifacetada de redescoberta e reinvenção nacional, que foi catalizada pela crise do Ultimatum britânico e teve em António Nobre o seu protagonista literário mais original e, a longo prazo, mais influente. Este artigo foca a resignificação performativa da identidade lusitana, realizada por Nobre, no contexto da sua inédita e altamente heterodoxa negociação dos tropos de família, género e orientação sexual. A reescrita queer a que o poeta sujeita as fórmulas genealógicas do nacionalismo português emerge como um projecto subversivamente “menor” e desterritorializado (no sentido elaborado teoricamente por Deleuze e Guattari), constituindo uma contribuição singularmente perversa e profundamente desconstrutiva para o repertório cultural nacionalista.

pdf