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Reviewed by:
  • Understanding the Portuguese Poet Joaquim Pessoa, 1942-2007: A Study in Iberian Cultural Hybridity
  • Antonio Sáez Delgado
Simon, Robert . Understanding the Portuguese Poet Joaquim Pessoa, 1942-2007: A Study in Iberian Cultural Hybridity. New York, The Edwin Mellen Press, 2008. 164 pp.

Joaquim Pessoa, o poeta escolhido pelo professor Robert Simon como objecto central do seu estudo, faz parte do conjunto de autores cuja obra despontou com o advento do sistema democrático em Portugal (o seu primeiro livro "público," O Pássaro no espelho, foi editado em 1975). Desde então, a sua obra multiplicou-se através de mais de vinte livros de poemas, que atravessam as últimas décadas do século XX e, com elas, várias das tendências dominantes na poesia portuguesa do momento. Pessoa é, presumivelmente graças à nítida consciência social da primeira parte da sua obra, um poeta que goza amiúde do privilégio de se ver reconhecido por um vasto público, que viveu a transição para a democracia na companhia dos seus livros. Mas Joaquim Pessoa é também, presentemente, um poeta que carece de uma nova aproximação, de uma releitura neutra que situe a sua figura não apenas no exclusivo sistema da poesia pós-Revolução dos Cravos em Portugal - com as indubitáveis marcas sócioestéticas que esta afirmação acarreta -, mas também como o autor de uma ampla obra de características plurais, que sobrevive aos anos construindo o caminho da sua própria evolução.

Por esta razão, em primeiro lugar, é bem-vindo um livro como Understanding the Portuguese Poet Joaquim Pessoa, 1942-2000: A Study in Iberian Cultural Hybridity, no qual Robert Simon relê e oferece uma nova contextualização da obra de Pessoa, releitura essa que não se limita a observar a primeira parte da sua poesia, a mais nitidamente social, mas que sonda e aprofunda com êxito as razões fundamentais da sua própria evolução, a demanda incessante da sua própria voz poética. Porque se é verdade que a dimensão social, e situada efectivamente numa órbita política, é evidente na poesia de Pessoa dos anos setenta, não o é menos que na poesia dos oitenta e noventa este tópico temático abre espaço a outras preocupações mais intensas, como a procura e compreensão das diversas formas do amor, em primeiro lugar, e o percurso místico até um encontro com a esfera mais alta e profunda do homem, como conclusão. Para tal, Robert Simon oferece ao leitor uma interessante leitura da poesia de Pessoa que avança (quase sempre através da análise de poemas escolhidos com perspicácia) [End Page 248] até uma dimensão híbrida, na qual constam várias culturas e tradições, com privilégio para uma leitura mística e sufista.

Com este propósito, Simon organiza a sua obra em quatro capítulos, pelos quais opera uma aproximação paulatina do seu objectivo. No primeiro, parte de uma contextualização geral do pós-modernismo na poesia portuguesa, na sua relação com a obra de Joaquim Pessoa, a qual procura ressituar correctamente, com fundamentos críticos de Jonathan Culler, Roland Barthes, Jacques Derrida ou Julia Kristeva. Através de uma lúcida visão sobre o pós-modernismo português, que define como "not simply a monolithic genre, but rather a polyfaceted series of intertextual games played, in some writers, with recently past poetic movements," e firmando-se no exemplo do poeta Vasco Graça Moura, Simon assenta correctamente as bases do seu estudo, alicerçado nos conceitos de des-centralização, desconstrução e intertextualidade, os quais terá imediatamente ocasião de aplicar à poesia de Pessoa. É o que sucede no segundo capítulo da monografia que é também o mais amplo e no qual expõe as ideias críticas presentes na poesia do autor, que Simon divide em três fases: 1) Poesia marcada por um sentido de desconstrução; 2) Poesia marcada pelo surgimento de um sentido de exploração metafórica e mística do trágico...

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