Abstract

Voltado às amplas repercussões da mobilização abolicionista dos anos 1880, este artigo ressalta os fundos de emancipação locais no Rio de Janeiro (Corte) e em Recife como espaços importantes para a articulação da política popular. Examinamos dois tipos de fundos locais, o primeiro criado por iniciativas populares no Recife e o segundo produto da câmara municipal da Corte. Salientamos, na primeira parte, que os significados políticos dos fundos de emancipação mudaram ao longo da década de 1880, esta trajetória um exemplo do percurso conturdido da política da abolição. Os fundos de emancipação locais também alteraram as dinâmicas tradicionais da política, modificando as interações entre as esferas locais e nacionais, entre grupos populares e a elite. Na segunda parte, analisamos as operações quotidianas dos fundos. O uso de rituais públicos e a procura de donativos locais estenderam o alcance dos fundos a setores sociais previamente afastados do processo político. Os próprios escravos, particularmente as escravas, utilizaram seu pecúlio, informações colhidas nas ruas, e o patrocínio de maneiras inovadoras para ganhar sua liberdade, ao invés de recebê-la passivamente, através dos fundos. Enfim, os fundos de emancipação merecem a atenção dos historiadores porque se intercalaram de maneira importante com outros fenômenos de pressão política e social, como fugas de escravos e lutas jurídicas, que transtornaram a política brasileira na década de 1880 e aceleram o decreto da abolição da escravatura.

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