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  • Um espelho no palco: Identidades sociais e massificação da cultura no teatro de revista dos anos 1920
  • Neyde Veneziano
Gomes, Tiago de Melo . Um espelho no palco: Identidades sociais e massificação da cultura no teatro de revista dos anos 1920. Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 2004. 398 pp.

O Teatro de Revista no Brasil pode ser visto como um gênero de teatro musical que detinha, no país, mecanismos próprios de construção de texto e espetáculo, se estudado por este ângulo. Pode ser entendido como divulgador dos êxitos da música popular brasileira, oferecendo um painel surpreendente de composições e compositores que, até hoje, cantam no imaginário coletivo. Pode ser tomado, também, como o gênero que melhor exprimiu a idéia que o Brasil tinha de si nas primeiras décadas do século XX, período considerado como o mais representativo [End Page 138] da era revisteira. Numerosos podem ser os pontos de vista sobre uma manisfestação artística. Ainda mais quando se trata de um teatro polissêmico, na sua essência e no seu formato, no seu conteúdo e na sua estética, como é o Teatro de Revista.

Tiago de Melo Gomes, no entanto, voltando à velha abordagem do teatro como reflexo da sociedade (o que para certos teatrólogos seria visão ultrapassada . . . ), apresenta-nos um Teatro de Revista brasileiro como importante elemento de massificação cultural.

Professor de História dedicado a estudar o papel da cultura de massa no processo de formação da identidade brasileira, Melo Gomes vai desenhando, através de estrutura e estilo didáticos, desde o contexto das identidades mestiças do Rio de Janeiro na década de 1920, até o exame de um espetáculo de Revista denominado Tudo preto (Rio de Janeiro 1926), tomado aqui como paradigmático no que se refere ao caráter social brasileiro e suas relações com as identidades afro-descendentes. Para tanto, o autor tomou como objetivo do livro compreender melhor a discussão sobre temas da raça e da nacionalidade nos anos 1920, a partir da revista Tudo preto, que foi o espetáculo mais importante da Companhia Negra de Revistas. Na busca dessa meta, o livro reconstrói e examina o panorama social brasileiro em que se inseriu a Companhia Negra de Revistas, observando o Teatro de Revista como empresa e diversão de massa, com seus assuntos, seus tipos, feed-backs e crônicas do dia a dia. Não faltam estatísticas e fontes, como periódicos e textos contemporâneos, a atestarem a inserção do Teatro de Revista como um dos elementos responsáveis no processo da formação da identidade cultural.

Um espelho no palco, mesmo sem fotos de espetáculos, sem letras de música ou retratos de vedetes, é um estudo criterioso e sério para que se compreenda a formação de uma cultura mestiça no Brasil. A abordagem é indispensável a todos os que se interessam pela formação do povo brasileiro. E interessa, também, aos que estudam dramaturgia e espetáculo. Estes poderão descobrir, nesse espelho mulato dos anos 1920, as origens e os porquês de um palco musical considerado brasileiro.

Neyde Veneziano
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
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