In lieu of an abstract, here is a brief excerpt of the content:

Luso-Brazilian Review 41.2 (2005) 1-19



[Access article in PDF]

Pastoral e modernidade nos Poemas de Joaquim Cardozo

Abstract
Poemas (1947), the first book by Joaquim Maria Moreira Cardozo (1897- 1978), offers an alternative insight into the development of the modern Brazilian lyric. Its depiction of motifs related to the coexistence of rural and urban landscapes led to a poetics focused on the visual representation of abstract relations, and in particular the relationship between the human and natural worlds. Cardozo's poetry allows contemporary criticism to reevaluate the development of a subject matter that has characterized Brazilian literature since Modernism: the survival of archaic worlds within the modern urban self. His contribution may be taken as a case study that sheds light on the relations between the country and the city from a stance that does not isolate or oppose them, but rather takes the natural world as a fitting, if unusual, space for the examination of modern poetry.

Em uma carta enviada de Barcelona a Clarice Lispector no final dos anos quarenta, João Cabral de Melo Neto tenta convencê-la a ceder um dos seus trabalhos "para as rarefeitas edições inconsúteis," a pequena prensa manual que o poeta passara a cultivar como terapia para as suas invencíveis dores de cabeça. Diz João Cabral a Clarice:

Vou lhe mandar um livro de sonetos do Lêdo Ivo que publiquei e uma Antologia Pernambucana que organizei com os poemas do Joaquim Cardozo. Conhece V. a poesia do Cardozo? Soube que publicaram há pouco, no Rio, suas poesias completas, arrancadas do autor, que nunca publicara livro, e baseadas em textos "fixados e estabelecidos" pelo poeta e por mim, quando estava no Rio (O poeta não tinha cópia de nenhum poema; e assim, meu trabalho foi: pedir aos amigos as versões que possuíam e submetê-las à memória do poeta para que as corrigisse). Pois desses textos, num momento de añoranza da luz [End Page 1] recifense, escolhi os mais diretamente pernambucanos e organizei-os numa antologia que tenho estado imprimindo. O próprio Cardozo não sabe de nada, nem da estrutura que dei ao livro (um tanto especial) nem do próprio livro. A ver se lhe agradará.
(183- 184)

Até o ano de 1947, quando então completa seus cinqüenta anos, Joaquim Maria Moreira Cardozo (1897- 1978) ainda não havia sido publicado em livro. No ano anterior Manuel Bandeira o incluíra na sua Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos, seguindo a definição de Vinícius de Morais, para quem o título se aplicava aos "poetas sem livro de versos—bissextos pela escassez de sua produção, cuja excelência sem embargo os coloca ao lado dos mais citados," como, por exemplo, "um Joaquim Cardoso, cuja produção se recusa à intimidade dos que lhes são mais chegados, tão íntima quer ser" (citado em Bandeira, Antologia 5). Para Manuel Bandeira o poeta bissexto é, sobretudo, um criador impotente, incapaz de glosar mais do que dois temas: a dor íntima e a vida besta. Na reedição de 1964, Bandeira exclui Joaquim Cardozo e Paulo Mendes Campos da sua seleção de versejadores esporádicos, elevando ambos à categoria de poetas contumazes. Comentando esta passagem do anonimato à nomeada, Antônio Houaiss pergunta-se anos depois se Bandeira estava ciente da injustiça que cometera ao incluir Cardozo na cepa dos poetas infreqüentes, "pois na verdade o bissextismo de Joaquim Cardoso não era mais do que um relativo ineditismo" (189).

De fato, o que João Cabral apresentava com entusiasmo a Clarice na sua carta do dia 8 de dezembro de 1948 era um poeta ainda pouco conhecido nacionalmente, que acabara de estrear no ano anterior com o volume Poemas (1947), revelando enfim uma produção contínua e bastante diversificada. Quando a Geração de 45 se compõe, Cardozo já era reconhecido por vários dos seus...

pdf