Abstract

Neste artigo examina-se em pormenor a re-apropriação metafórica do ritual antropofágico na produção poética e ensaística de Oswald de Andrade. Para Oswald, é nesta re-significação que reside a possibilidade de se formar uma cultura nacional auténtica. Este projecto de renovação confronta-se, porém, com uma contradição fundamental, a qual se tornou no alvo predilecto da maioria das críticas ao movimento. Isto é, a emancipação tanto cultural como política que propõe a antropofagia mantém-se, em larga medida, definida por modelos culturais e epistemológicos europeus. Apesar desta putativa "dependência" intelectual, pretende-se contudo aqui que o movimento prefigura, por assim dizer, alguns dos procedimentos teóricos mais paradigmáticos da teoria póscolonial, a saber, a chamada inversão de margem e centro e a repudiação da exclusão da figura do "indígena" ou "primitivo" do discurso político e filosófico do Iluminismo como ponto de partida para uma reconsideração global do pensamento iluminista. Conclui-se, assim, que só neste sentido restricto é que se pode afirmar que a antropofagia "anticipa" o pósmodernismo.

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