Abstract

Apesar de alguns autores definirem “indigenismo” e “indianismo” como movimentos ideológicos de amplas proporções —definição compartilhada por indigenistas e indígenas, e por outros segmentos das sociedades nacionais com suas próprias agendas de proteção aos índios— o presente artigo questiona perspectivas estritamente nacionais do indigenismo/indianismo para reinterpretá-lo como uma filosofia social do colonialismo, que adquire a característica geral de ideologia e prática de dominação dos Estados nacionais latino-americanos, em particular no México e no Brasil. O argumento central é o fato de que “indigenismos” e “indianismos” quando observados sob as lentes dos processos latino-americanos de formação dos Estados e de construção nacional, compartilham do contexto da “colonialidade do poder” e, nesse sentido, podem ser interpretados como variações concomitantes de um processo histórico mais amplo de subordinação e potencial aniquilação da diversidade indígena do continente. Ao propor uma etnografia do indigenismo em perspectiva comparada, esse artigo promove uma melhor compreensão das variadas formas adquiridas pelo pensamento social e pela práxis política sobre os índios nas Américas, analisando até que ponto as transformações e movimentos do pensamento social e das ações indigenistas contemporâneas traduzem, de fato, rupturas mais do que continuidades com seu passado colonial. Trata-se de estudar o indigenismo e as políticas indigenistas como ponto de partida para melhor compreender os regimes de indianidade construídos no processo de formação dos Estados nacionais na América Latina e seus efeitos de poder sobre a etnicidade e formas de auto-determinação indígenas.

Abstract

Some authors define indigenismo and indianismo as ideological movements of wide proportions, a definition shared by indigenists and indigenes as well as by other segments of national societies with their own agendas of indigenous protection. This article criticizes strict national perspectives of indigenismo and indianismo to reinterpret it as a social philosophy of colonialism, characterized generally as Latin American national states’ ideology and practice of domination, especially in Mexico and Brazil. Indigenismo and indianismo, when observed under the lens of Latin American processes of state formation and national construction, share the context of the “coloniality of power”; in that sense they can be interpreted as concomitant variations of a wider historical process of subordination and potential annihilation of the indigenous cultural diversity of the continent. This article proposes an ethnography of indigenismo from a comparative perspective to promote a better comprehension of the varied forms of social thinking and political praxis on indigenes in the Americas. It seeks to present indigenismo and indigenist policies as a point of departure to better understand the regimes of indigeneity constructed during the nation-state-building processes in Latin America and their effects on indigenous ethnicity and forms of self-determination.

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