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Reviewed by:
  • Português como língua de herança em Londres: Recortes em casa, na igreja e na escola ed. by Ana Souza
  • Fernanda Ferreira
Souza, Ana, org. Português como língua de herança em Londres: Recortes em casa, na igreja e na escola. Campinas: Pontes. Pp. 150. ISBN 978-8-57113-689-2.

O título deste livro, além do próprio sumário, aponta para uma abordagem extensiva da questão do português como língua de herança em comunidades brasileiras no Reino Unido. A maioria das publicações que exploram este tema se dedica à situação nas escolas públicas. Em comparação, o livro de Ana Souza explora não só o português na escola, como também a presença da língua de herança nos domicílios e na igreja. Poucas publicações conseguem dar aos leitores uma visão integrada destes três ambientes sociolinguísticos.

É importante salientar que Souza é também a organizadora desta coletânea. Cada uma das três seções do livro começa com uma apresentação escrita por um especialista no campo de pesquisa do português. No entanto, todos os ensaios contidos em cada seção são de autoria de Souza, que anteriormente os publicou em inglês. Como é de se esperar, o livro está dividido em três partes, cada uma dedicada ao contexto social acima mencionado. Além disso, certos capítulos do livro oferecem uma seção titulada “Interligando os estudos”, que faz, portanto, conexões teórico-pedagógicas entre os diversos trabalhos. Uma crítica importante é que às vezes os temas parecem repetitivos. A questão da identidade étnica e cultural pode ser não só uma linha conectiva entre os estudos, como também um assunto já amplamente abordado em várias partes da coletânea.

Apesar de o livro focar nas comunidades de brasileiros em Londres, os leitores podem transferir vários entendimentos nele contidos para comunidades de brasileiros em outros países. Existe uma situação comparável especialmente nos Estados Unidos, onde a língua da sociedade envolvente é também o inglês. Fica evidente no decorrer da leitura que existe uma diversidade de razões não só para a manutenção como também para a perda da língua portuguesa nestes contextos. A autora explora estas razões, especialmente no que diz respeito à questão identitária. Souza consegue incorporar as teorias mais recentes com respeito à negociação de identidades, além de estudos generalizados sobre a organização de grupos sociais. Ela tem como objetivo identificar com maior precisão as barreiras para a manutenção da língua, os preconceitos sociais e étnicos experimentados pelos falantes, assim como as dificuldades de adaptação vividas não só por brasileiros recém-chegados como também por aqueles que vivem há mais tempo no Reino Unido. [End Page 338]

Souza adota um conceito de identidade pós-estruturalista, ou seja, uma abordagem de aspecto contínuo, não-binário. Por exemplo, ela coloca os seguintes termos de autoidentificação feitas pelas mães brasileiras em Londres: “turista”, “comospolita expatriada” e “cosmopolita precoce”, indo da menos integrada até à mais integrada na sociedade inglesa. Outro exemplo se refere à parte do livro dedicada à influência da igreja na manutenção do português. Neste caso a autora oferece uma representação gráfica na forma de um triângulo (religião, etnicidade, língua) onde o uso gradativo do português e do inglês estariam colocados, dependendo da religião (católica, kardecista ou evangélica) da mãe brasileira. Os gráficos se diferenciam dependendo dos laços fortes ou fracos em cada um dos pontos do triângulo.

É importante notar que a autora também é parte desta comunidade: ela não só é pesquisadora como também é professora em uma das escolas comunitárias. Na última parte do livro, dedicada à manutenção do português nas chamadas escolas complementares, a autora oferece uma visão mais detalhada do que ocorre na sala de aula. Ela incorpora uma análise cuidadosa da fala das professoras...

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