Abstract

Abstract:

This article tracks the changes Machado's figure underwent during over a century and a half and shows how classifications regarding race and color are projected upon the writer and his work. During his lifetime, his mixed-race features were stressed by detractors such as Augusto Fausto de Sousa and Sílvio Romero and minimized by enthusiasts like Joaquim Nabuco, who considered him to be white and only saw "the Greek" in him. In the first decades of the twentieth century, critics and biographers started associating mulattoism to psychopathology, which supported the constitution of the exceptional being, the genius who overcame all original challenges and filled a prominent role in the country's cultural life. From the 1930s, the mestizo started to be positively emphasized in line with Gilberto Freyre's thinking, which culminated in the reconfiguration of the writer as an exemplary mixed-race Brazilian during the Estado Novo (New State). More recently, Machado de Assis has been reclaimed by black movements that aim at configuring him as an icon of Negritude. This article recomposes and documents the path of the Machadian figure based on issues of color and race and examines how they are projected upon a character who has been at the center of literary, cultural, and political debate in Brazil for over a century.

Abstract:

O artigo percorre as modificações da figura machadiana ao longo de mais de um século e meio, mostrando como classificações de raça e cor rebateram sobre o escritor e sua obra. Durante seu tempo de vida, os traços mestiços foram enfatizados por detratores como Augusto Fausto de Sousa e Sílvio Romero e minimizados ou apagados por entusiastas como Joaquim Nabuco, que o considerava branco e só via nele "o grego." Nas primeiras décadas do século vinte, críticos e biógrafos passaram a associar a condição de mulato à psicopatologia, o que subsidiou a constituição do ser de exceção, do gênio que venceu todas as dificuldades da origem até ocupar lugar de destaque na vida cultural do país. A partir da década de 1930, passou-se a ressaltar positivamente sua condição de mestiço, em linha com o pensamento de Gilberto Freyre, o que culminou com a reconfiguração do escritor, durante o Estado Novo, como brasileiro exemplar. Mais recentemente, Machado de Assis vem sendo reivindicado pelos movimentos negros, que buscam configurá-lo como ícone da negritude. Este artigo recompõe e documenta a trajetória da figura machadiana a partir das questões de cor e raça, examinando como elas se projetam sobre um personagem há mais de século que ocupa o centro do debate literário, cultural e político no Brasil.

pdf