Abstract

This article analyzes the representation of December 1961 in two Goan short stories: the Portuguese-language "Rucmá, a mulherzinha de Salém" by Maria Elsa da Rocha and the Konkani-language "Guerra" by Sheela Kolambkar. I argue that these two stories avail themselves of the suggestive potential of the genre to represent Liberation not as a clean break in the socio-historical development of the territory, as it appears predominantly in the English-language literature of the territory, but as a discontinuity, which, in the wake of colonialism, left behind a tangle of undefined hopes, obscure fears and unsettled issues. Both "Rucmá" and "Guerra" represent the period prior to the Indian military action as a chronotope of uncertainty, which Liberation deepens rather than resolves. Writing post-1961, in a climate of growing tension during the democratization of Goa, the authors seem to advocate for social unity based on a recognition on the part of the two principal religious communities of Goa of a certain conformism in relation to colonial rule. In conclusion, I pose the question of whether this appeal to unity has a conservative function. The proposition underlying the article is that an internal literary comparatism, which juxtaposes the various languages of Goa, might shed light on attitudes concerning the main social facts and historical events in the territory.

Este artigo analisa a representação de Dezembro de 1961 em dois contos goeses: "Rucmá, a mulherzinha de Salém," em português, de Maria Elsa da Rocha, e "Guerra," em concani, de Sheela Kolambkar. Sustenta-se que esses contos, aproveitando as potencialidades sugestivas do seu gênero, representam a Libertação de Goa não como um rompimento definitivo no processo sócio-histórico do território, como se manifesta predominantemente na literatura anglófona do território, mas uma descontinuidade que, acabado o colonialismo, deixou um emaranhado de esperanças indefinidas, medos obscuros e questões mal liquidadas. Tanto "Rucmá" quanto "Guerra" representam o período antes da ação militar indiana num cronótopo de incertezas, que a Libertação vem aprofundar e não resolver. Escrevendo no momento pós-1961, de acirramento de tensões sociais durante a democratização de Goa, as duas autoras parecem promover nos seus contos uma unidade social, baseada no autorreconhecimento por parte das duas principais comunidades religiosas de Goa de um certo comodismo geral em relação a situação colonial. Pergunta-se em jeito de conclusão se esse apelo à unidade pode ter motivações conservadoras. A sugestão subjacente ao artigo é que um comparatismo literário interno, que coteje as várias línguas de Goa, pode elucidar atitudes para com os principais factos sociais e eventos históricos do território.

pdf