Abstract

É bem conhecida a adoção por parte de João Cabral de Melo Neto da racionalidade e da objetividade como fundamentos de sua poesia. As causas de tal escolha, mantida com determinação por Cabral em toda sua obra, tornam-se mais claras mediante a análise do impacto de suas leituras e reflexões literárias em sua poesia e em sua personalidade como poeta. A utilização de numerosos elementos intertextuais e metaliterários em seus poemas indica a configuração gradual do cânon pessoal dum poeta firmemente decidido a colocar seu nome numa tradição de poesia lógica radicalmente oposta à tradição sentimental dominante na poesia brasileira. Nesse sentido, o diálogo de João Cabral com sua tradição é a clássica luta de qualquer poeta com o passado e com o presente, a adoção e a emulação consciente de certos modelos poéticos, assim como a negação de outros. Este artigo analisa, de um lado, a configuração do cânon cabralino desde as relações mais intensas do poeta com as poesias francesa, americana e espanhola (Baudelaire, Mallarmé, Valéry, Moore, Berceo), e com a portuguesa (Cesário Verde), e de outro a influência de tais relações em sua visão alternativa do cânon poético brasileiro.

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