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Reviewed by:
  • De Nada by Alberto Pimenta
  • Carlos Nogueira
Pimenta, Alberto. De Nada. Lisboa: Boca, 2012. Pp. 110. ISBN 978-9-898-42114-2.

Desde 1970, ano em que fez sair, em edição de autor, o seu primeiro título, O Labirintodonte, Alberto Pimenta (Porto, 1937) publicou cerca de três dezenas de livros de poesia. De Nada inclui um CD com a interpretação dos poemas pelo próprio poeta, que é há muito conhecido por vários tipos de performances públicas e happenings. Por exemplo: em 1977, Pimenta entrou numa jaula do Jardim Zoológico de Lisboa, e, ao lado de gorilas e chimpanzés, expôs-se a quem passava, com um letreiro com a inscrição “Homo Sapiens”; uns anos mais tarde, também em Lisboa, expôs-se junto à porta da Igreja dos Mártires, dentro de um saco de serapilheira, ostentando o dístico “Homo Venalis”.

Alberto Pimenta é um exímio dizedor da sua poesia, e, por isso mesmo, tem um público fiel que assiste às apresentações dos seus livros, sempre em espaços que permitem grande proximidade entre o autor e os ouvintes/leitores. Este livro, que, por ser um audiolivro, pode interessar ainda mais ao público em geral, a especialistas, a professores e a alunos, vem tornar muito perceptível a ideia de que dizer poesia com expressividade é comunicar sentidos que numa leitura solitária e silenciosa podem passar despercebidos. [End Page 534]

De Nada tem de comum com toda a produção literária e artística de Alberto Pimenta um conhecimento muito pragmático e sensível da sociedade e da arte. Este poeta usa sempre uma expressão estética incomum, não estandardizada, em que o cómico se liga ao trágico. A mistura de atitudes de expressão e de espírito, da ironia e da sátira ao humor e à elegia, é estruturante da arte poética de Alberto Pimenta, a cujos versos subjaz uma inteligência muito vigilante e criativa. Atenta aos processos de composição e ao mundo, é uma poesia que sugere, desde o início, que tudo deve estar constantemente em julgamento, que parodia a alta cultura e os seus agentes pela imposição de visões unívocas e redutoras da arte e da vida, e que quer contribuir para a instauração de um mundo menos desigual e mais justo.

Em De Nada, Alberto Pimenta regressa ao poema curto ou relativamente curto, de cerca de uma a quatro ou cinco páginas, depois de, nos últimos livros, optar pela composição longa. Este livro, constituído por um “Prólogo”, duas partes com dezanove e dezassete poemas respetivamente, e, no final, por um “Prólogo em Marcha”, nasce do que o poeta vê, ouve e lê na rua. No prólogo, que é uma paródia das dedicatórias e dos agradecimentos que aparecem no início de muitos livros, o autor agradece a pessoas anónimas e a personagens da História e da Cultura (5).

No “Prólogo em marcha”, que parodia a “Conclusão” típica de muitas obras, o poeta remete com ironia e humor para a sua condição antiga de marginal e marginalizado. A subversão dos códigos manifesta-se também no uso da letra minúscula em início de frase: “logo no início do caminho da minha vida, perdi o tacão dum sapato. … tive de procurar outro, um que se parecesse, mas o mais parecido que havia não era bem o mesmo, era só, como disse, parecido” (107). Ao contrário de Dante, que se perdeu no caminho, o poeta tem feito o seu percurso com dificuldade, “sempre coxeando” (107), simplesmente porque perdeu um tacão; mas nem por isso deixa de, novamente numa alusão que o leitor pode associar a Dante, ver ao seu lado “filas de caminhantes que avançam como eu, todos coxeando sem o saberem, ou sabendo-o e ignorando-o” (107), e parecendo “que procuram chegar a um lugar que eu não conheço” (107).

É, pois, neste contexto insólito, que tem tanto de burlesco como de s...

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