Abstract

Este artigo examina o tratamento da cultura de consumo nos romances A cidade e as serras, de Eça de Queirós (publicado em 1901), e, A caverna, de José Saramago (de 2000), à luz das teorias de Zygmunt Bauman, Georg Simmel e Umberto Eco, entre outros. As duas obras consideram tentativas (falhadas) de construir um modelo novo do ser humano através da aparente sofisticação dum meio ultramoderno (o Paris da alta burguesia de finais do século XIX, e o mercado de consumo massivo dos nossos próprios dias, respetivamente): em ambos os casos, porém, os protagonistas descobrem uma vida de maior satisfação fora do meio desumanizado criado pela utopia de consumo, que se torna distopia na realidade. O contraste principal entre os dois romances reside na crítica clara oferecida no romance de Saramago às forças anónimas do Centro, que fazem questão de eliminar a consciência de qualquer ordem alternativa ao sistema dominante, enquanto no caso de A cidade e as serras, Eça aponta para o crescimento descontrolado duma sociedade em que os indivíduos retratados (representativos duma faixa limitada e privilegiada da população urbana) pensam apenas nos próprios prazeres superficiais sem levar em conta nem a infraestrutura necessária para a manutenção desta vida de luxo nem as possibilidades para construir outra vida mais atrativa.

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