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Reviewed by:
  • Antigone's Daughters? Gender, Genealogy, and the Politics of Authorship in 20th-Century Portuguese Women's Writing by Hilary Owen and Cláudia Pazos Alonso
  • Ana Raquel Lourenço Fernandes
Owen, Hilary and Cláudia Pazos Alonso. Antigone's Daughters? Gender, Genealogy, and the Politics of Authorship in 20th-Century Portuguese Women's Writing. Lewisburg: Bucknell UP, 2011. 255 pp.

O título do mais recente estudo de Hilary Owen e Cláudia Pazos Alonso, Antigone's Daughters? Gender, Genealogy, and the Politics of Authorship in 20th-Century Portuguese Women's Writing, apresenta-se como um sugestivo desafio ao leitor. As autoras recuperam três gerações de escritoras do século XX: Florbela Espanca (1894-1930) e Irene Lisboa (1892-1958), Agustina Bessa Luís (1922-) e Natália Correia (1923-1993), Hélia Correia (1949-) e Lídia Jorge (1946-), analisando diferentes géneros literários, num período compreendido entre 1919 [End Page 279] e 1998, de modo a problematizar questões de género na constituição de um cânone literário português contemporâneo.

Na tentativa de desenhar um mapa de mulheres escritoras, estabelecendo elos entre gerações passadas e presentes, reflecte-se neste importante e há muito requerido trabalho sobre as políticas de construção de uma memória cultural nacional, sobre noções de legado e de continuidade, bem como sobre a representação masculinizada do génio criativo na literatura portuguesa.

Fundamentando a sua argumentação numa metodologia crítica feminista, Owen e Pazos Alonso recorrem na sua introdução a múltiplos autores e estudos literários de modo a organizar uma cronologia do debate que, no seguimento da publicação das Novas cartas portuguesas (1972), se foi desenvolvendo progressivamente, acerca da obliteração de autoras portuguesas da memória cultural e da história literária (normativa) do país. As autoras de Antigone's Daughters? revisitam o discurso histórico literário português, denunciando omissões e explorando alternativas para a noção de "tradição matrilinear," tal como é delineada por Christine Battersby. No intuito de desconstruir os mecanismos discursivos que têm legitimado a marginalização de mulheres escritoras, recupera-se a figura mítica de Antígona, estabelecendo-se um pertinente paralelo com Mariana Alcoforado, personagem que detém um papel central no processo de desconstrução de uma tradição patriarcal na história da literatura portuguesa.

As autoras exploram as diferentes perspectivas críticas referentes à figura de Antígona adoptadas por duas filósofas em particular, Luce Irigaray e Judith Butler, contrapondo à noção de continuidade, defendida por Irigaray através da recuperação de uma tradição matrilinear, a noção de descontinuidade, desenvolvida por Butler. Este debate feminista contemporâneo em volta da personagem de Antígona funciona, tal como referem as autoras, como inspiração teórica para o estudo pioneiro que apresentam. Através da análise da obra de seis escritoras fundamentais no panorama literário português do século XX, e alicerçando a sua análise com uma bibliografia secundária cuidada e extensa, Owen e Pazos Alonso vão responder a duas questões prementes: o modo como estas escritoras articulam a noção de autoria feminina na sua ficção e a maneira como desenvolvem diálogos intertextuais com os seus antepassados literários, recusando ou assumindo uma tradição cultural feminina.

O primeiro capítulo é dedicado a Florbela Espanca, centrando-se na questão do génio literário na sua obra poética. Através da análise de sonetos do Livro de Mágoas (1919), do Livro de "Soror Saudade" (1923), de Charneca em Flor (1931) e do livro póstumo Reliquiae (1931), as autoras demonstram o modo como Espanca desafiou na sua arte as categorias culturais pré-existentes, a noção de génio masculino, construindo uma expressão poética única, magistralmente em diálogo com uma tradição literária masculina e canónica (Luís de Camões, Antero de Quental, António Nobre, Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa são apenas alguns exemplos), mas também abrindo caminho...

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