Abstract

O artigo discute a relação entre discurso verbal e discurso visual a partir do legado da poesia concreta e neoconcreta dos anos 1950 e de sua teorização pelos poetas Haroldo de Campos, Ferreira Gullar e Kitasono Katsue. A presença da palavra escrita nas artes visuais dos anos 1960 foi frequentemente interpretada em termos da noção de "desmaterialização do objeto de arte," elaborada pelos críticos de arte Lucy Lippard e John Chandler. No entanto, ao passo que a ideia de desmaterialização descreve bem o processo que se observa na obra de artistas conceituais como o norte-americano Joseph Kosuth, este artigo argumenta que a mesma noção não dá conta do uso da palavra escrita na obra de artistas neoconcretos, tais como Hélio Oiticica. No neoconcretismo, e em grande parte da produção artística dos anos 1960, está em jogo antes o processo inverso, de materialização da linguagem no objeto de arte. No cerne desta discussão, o artigo aponta e explora a idealização da escrita ideogramática sino-japonesa por Haroldo de Campos, sua elaboração em método de composição poética e a contrapartida do concretismo na obra do poeta japonês Kitasono Katsue.

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