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A IMAGEM CANIBALIZADA A ANTROPOFAGIA NA PINTURA DE TARSILA DO AMARAL _________KARL ERIK SCH0LLHAMMER_________ Pontificia Universidade Católica IRio de Janeiro IÀrhus Atelier Caipirinha vestida de Poiret A preguiça paulista reside nos teus olhos Que nâo viram Paris nem Piccadilly Nem as exclamaçôes dos homens Em Sevilha à tua passagem entre brincos Locomotivas e bichos nacionais Geometrizam as atmosferas nítidas Congonhas descora sob o palio Das procissóes de Minas A verdura no azul klaxon Cortada Sobre a poeira vermelha Arranha-céus Fordes Viadutos Um cheiro de café No silencio emoldurado Oswald de Andrade - Pau-Brasil Entre as experiencias dos artistas plásticos brasileiros, durante as primeiras décadas do século, e as idéias de poetas, escritores e críticos modernistas corre um fluxo constante e visível, dando ao modernismo brasileiro o caráter de movimento cultural. Neste ensaio, observaremos alguns contatos e afinidades que conduzem o movimento no período que começa alguns anos antes da Semana de Arte Moderna e culmina com o Manifesto antropófago . Sem dúvida, nao seria ousado demais dizer que os artistas plásticos sao — através de seu exemplo concreto e aglutinador— importantes inovadores do pensamento crítico modernista; pensamento que rompe com os códigos©1999 NUEVO TEXTO CRITICO Vol. XII No. 23/24, Enero a Diciembre 1999 180___________________________________________KARL ERIK SCH0LLHAMMER anteriores e redefine, de maneira revolucionaria e antropofágica, a constru- çâo histórica da identidade cultural brasileira. Discutir a troca de influencias entre as artes visuais e a literatura no movimento modernista já nao é novidade para a crítica literaria, uma vez que, para os modernistas, o proprio esforço artístico de criar uma expressäo¡novadora, no que se refere à tradiçâo, significava romper as fronteiras entre géneros e disciplinas. Assim, letras e artes se aproximaram, cúmplices, superando , ao mesmo tempo, o discurso realista e a imagem mimética. A imagem se "textualizava" na procura de uma linguagem pictórica renovadora da herança do naturalismo e o texto poético incluía elementos sonoros e visuais em busca de efeitos sinestéticos que refletiam uma sensaçâo mais íntegra, plena e sensual da moderna realidade urbana. As palavras-chave sao simultaneidade e sinestesia, ou seja, a possibilidade de produzir na poesía os efeitos experimentados através das novas técnicas audiovisuais, da fotograf ía, do cinema, do radio e dos meios de comunicacáo incipientes —como o telégrafo—, efeitos próprios de uma percepçâo aguda da vida urbana em imagens fugazes e num movimento frenético. Mario de Andrade adota esta idéia no "Prefacio interessantíssimo", em Paulicéia Desvairada (1922), na inven çâo do "desvairismo", de teor visivelmente futurista. Assim também o estilo telegráfico e cubista de Oswald de Andrade, tal como desenvolvido em Memorias Sentimentais de Joäo Miramar (1924) e em Serafim Ponte Grande (1933). Estes romances —escritos de maneira fragmentaria, polifónica, descontinua e metonímica— , oferecem uma expressäo suprema desta vertente. Mas é importante destacar que esse intercambio entre as artes visuais e os poetas brasileiros, nesse momento, destaca-se por motivos que váo além do mero interesse de inovaçao estilística e expressiva. Juntos, eles partem para uma revalorizacäo da iconografía nacional, buscando elementos constitutivos para uma expressäo genuína da identidade brasileira, numa linguagem moderna e universal e, ao mesmo tempo, arcaica, primitiva e nacional. Nesta ambigüidade criativa, o movimento modernista se cataliza, por um lado, entre a vontade de transgressäo da tradiçâo e, por outro lado, o desejo de recuperaçâo redentora da mesma. No prefacio da segunda ediçâo do seu A Querela do Brasil, Carlos Zílio renovou a interpretaçâo do movimento modernista brasileiro nas artes plásticas , em geral visto como expressäo de uma ruptura radical com o Academismo do século XIX e com a herança do Neoclassicismo —da Missäo Francesa, em particular, representada pela pintura de Debret e de seu discípulo brasileiro, Araújo Porto-Alegre. Para Zílio existe, apesar da retórica modernista de "ruptura", uma continuidade desde Araújo...

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