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TEORIZAÇAO LITERARIA E SITUAÇÂO LAnNO-AMERICANA __________________LUIZ COSTA LIMA__________________ Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Pontifica Universidade Católica Há-de se lembrar, de inicio, que, na tradiçâo dos estudos literarios, a reflexäo teórica nâo desempenhou um papel saliente. Até data bem recente, esta tradiçâo teve antes um caráter descritivo, fosse ele puramente históricofactual ou se prolongasse em sociológico, e particularizado — a apreciaçâo de obras singulares— do que propriamente teórico. A ausencia ou a menoridade de reflexäo latino-americana nâo é pois uma anomalía senáo em conffronto com a produçâo dos últimos 30 anos Indagarmo-nos pois sobre a posiçâo dos estudos teóricos dora da América Latina, antes do boom atual dos mesmos, servirá de meio de contraste para a indagaçâo de (a) por que aquela tradiçâo é hoje contrariada e (b) por que o afá teorizante nao se estende à América Latina. Entendida com discurso autónomo, i.e., nem mais subordinada ao conceito renascentista de belles-lettres, nem mais a serviço do bem e do verdadeiro , a literatura nao é reconhecida senáo ñas décadas fináis do século XVIII. Nâo é pois estranho que seja entâo que repontem as primeiras reflex óes teóricas sobre a funçâo e os traços característicos deste novo género discursivo; dito de modo mais específico, apresentam-se elas como conseq üéncias da recepçâo da 3a Crítica kantiana (1790). Considerando o ensaio de Schiller, Ueber die ästhetischer Erziehung des Menschen (1795) e as duas séries de fragmentos de F. Schlegel, os "Kristische Fragmente" (1797) e os "Athenäum Fragmente" (1798) seus representantes máximos, näo será ocioso que se assinalem suas direçôes radicalmente antagónicas. A oposiçâo entre eles nao estará em contrariar ou diminuir a ênfase kantiana na autonomía da experiencia estética, nem tampouco em despolitizar a reflexäo a ela concernente ; antes resultará da posiçâo que um e outro assumiräo face à ruptura da antiga unidade da razäo, pelo pensamentokantiano fragmentada ñas esferas separadas do conhecimento, da moral e da experiêcia estética. Noutras palavras, os rumos, igualmente teórico-reflexivos, de Schiller e Schlegel se distinguiräo por suas derivas contrapostas. Na impossibilidade de análise rigorosa, limitemo-nos a dizer que a direçao de Schiller é estetizante, enquanto a de Schlegel é crítica. Apenas esbocemos o que justifica essas de-©1995 NUEVO TEXTO CRITICO Vol. VII Nos. 14-15, Julio 1994 a Junio 1995 378_____________________________________________________LUIZ COSTA LIMA signaçôes, embora devemos estas a priori conscientes de que o exame textual apresentaria um resultado bastante mais complexo. Como bem se sabe, o problema básico para o Schiller da Educaçâo estética da humanidade consistía em fomentar a educaçâo do cidadäo para um Estado que, superando seu caráter impositivo, se tornasse o Estado da liberdade . O Estado presente, em sua feiçao moderna, "fazia necessária a estrita delimitaçâo dos estamentos e dos negocios", a qual, junto com a divisäo rigorosa das ciencias, rompeu "a unidade interna da natureza humana" (Schiller , F.: 1795, Carta VI, 20-1). Assim, embora Schiller näo o diga explícitamente , podemos entender que considerava a distinçao kantiana entre sensibilidade e entendimento como o correlato desde estado de coisas. Portanto um dado político — a presença de um Estado que se impóe mecánicamente e só se legitima pelo "jugo da necessidade" — e um dado epistemológico — o fato de o conhecimento exigir a distinçao entre as formas da sensibilidade e as categorías do entendimento— seriam os aspectos que se precipitariam em um dilaceramento comum, que se haveria de superar. É com este propósito que a força do poético é por Schiller invocada. Sob forma interrogativa, sua funçao se introduz na Carta VI: Mas (...), dissolvido em razáo pura e intuicáo pura, será o espirito capaz de trocar as cadeias estreitas da lógica pelo curso livre da força política (...)? (idem, 25). Sua veemência indica a...

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