The Transformation of the Workers' Party in Brazil, 1989-2000 (review)

Muito se tem pesquisado sobre a dinâmica institucional do governo do Partido dos Trabalhadores, que assume a presidência com a vitória de Lula em 2003: seja as relações entre executivo e legislativo, a efetividade de políticas públicas nos setores social e econômico, as reformas implementadas (inéditas ou continuadas), ou mesmo o papel da liderança pessoal de Lula na política brasileira. O livro de Wendy Hunter não é, no entanto, mais um estudo que se enfileira nestes exemplos, pois a autora propõe uma abordagem absolutamente inédita para compreendermos a experiência política brasileira no período de 1989 a 2009. O livro é inovador tanto em termos do objeto e da substância de pesquisa, quanto em termos dos argumentos e da análise metodológica. Hunter apresenta o aprofundamento de uma perspectiva institucionalista para interpretar a transformação do Partido dos Trabalhadores ao longo do tempo em que, tendo deixado de ser um partido de oposição, se transformou em um bem sucedido partido de governo. O diferencial analítico está no fato de que a pesquisa não se refere às reformas implementadas pelo Partido dos Trabalhadores desde 1989, mas sim às reformas, ajustes e reestruturação do próprio partido ao longo de sua experiência governamental. Assim, o Partido dos Trabalhadores foi pesquisado por Hunter como uma instituição que, não apenas se constitui e se organiza para alcançar objetivos, mas também se transforma e se adapta no tempo e em função das circunstâncias. Mesclando ferramentas da escolha racional e do institucionalismo histórico, a autora identifica e analisa fatores exógenos e endógenos que levam o Partido dos Trabalhadores a sua mudança estrutural e, consequentemente, ao seu sucesso governamental.

O livro de Hunter abarca os mecanismos institucionais e eventos que contribuem para se identificar a extensão e os limites em que o Partido dos Trabalhadores aprendeu a se beneficiar da consolidação democrática e do crescimento econômico, apesar de ter-se fortalecido em circunstâncias opostas e adversas. Como o Partido dos Trabalhadores foi capaz de se adaptar a mecanismos de coalizão e de barganhas interpartidárias, criar mecanismos governamentais próprios, ser responsável e competente na opção em manter políticas de continuidade e, em 2005, até mesmo sobreviver às graves denúncias de corrupção que atingiram os principais nomes do partido, preservando-se a presidência? Como um partido radical de esquerda que cresceu alimentando-se da situação de oposição, da prática da contestação e de denúncia contra corrupção, da luta pela implementação e consolidação da democracia, e fortemente conduzido por um líder que alternadamente é identificado como responsável e populista, pode ter sido capaz de transformar-se estruturalmente a ponto de se tornar um partido governista bem sucedido? O que é possível aprender-se sobre o Partido dos Trabalhadores desde uma perspectiva institucionalista? Que fatores contribuem e convergem na mudança institucional observada? Em que medida o gabinete e a equipe de governo de Lula contribuíram para a mudança partidária e o quanto o partido político pode ter afetado o governo?

Hunter nos permite excursionar pelos percursos e percalços que traduzem-se na história do governo Lula, no processo de gradual ajuste e transformação de um partido radical de massa, representante da classe operária oprimida e empobrecida, em um partido de um governo bem sucedido politicamente, que marca a recente história do crescimento econômico brasileiro por um lado e a consolidação da democracia por outro. O Partido dos Trabalhadores é de fato um caso bem sucedido de adaptação e mudança institucional e a tese do livro, para além do período analisado, parece se confirmar com a efetiva viabilidade eleitoral e capacidade competitiva comprovada com...